Ouvi contar de uma donzela de alta linhagem, que depois de se ter entregue aos prazeres, se disse ir casar a Espanha. Um dos seus mais particulares amigos disse-lhe um dia, a brincar, que muito se admirava de ela, que tanto amara no levante, ir agora navegar para poente e ocidente (por a Espanha se situar a ocidente). Respondeu-lhe a dama: «Sim, ouvi dizer aos marinheiros que muito viajaram que a navegação pelo levante é muito aprazível e agradável; o que eu mesma verifiquei com a bússola que tenho em meu poder; mas dela me socorrerei quando estiver no ocidente e quiser voltar para o levante.» Poderão os bons intérpretes interpretar esta alegoria e adivinhá-la sem eu ter que a glosar. Depois destas palavras, calcule-se que orações esta donzela não rezaria a Nossa Senhora!
Brantôme, As damas galantes. Tradução de Luiza Neto Jorge e Manuel João Gomes.
Brantôme, As damas galantes. Tradução de Luiza Neto Jorge e Manuel João Gomes.
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