Um dos meus parágrafos preferidos de Walden, talvez o preferido, é este, na secção “Economia”:
“Há muito tempo perdi um cão de caça, um cavalo baio e uma rola; procuro-os até hoje. Falei com muitos viajantes sobre eles, descrevendo os seus percursos habituais e os chamamentos a que respondiam. Um ou dois tinham ouvido o cão, o galope do cavalo e até visto a rola desaparecer atrás de uma nuvem, parecendo tão ansiosos por encontrá-los como se eles próprios os tivessem perdido.” (minha tradução, para a Relógio D’Água).
Gosto particularmente desta passagem pelo facto de resistir às explicações dos comentadores, que a consideram o momento mais enigmático do livro. Todos os livros deviam ter passagens que os leitores, os comentadores e os tradutores não conseguem perceber a cem por cento — e que os autores não querem decifrar. Os estudiosos tentam identificar as possíveis referências do cão de caça, do cavalo baio e da rola que Thoreau menciona, especulando que devem ser pessoas, mas podem ser só ideias, sentimentos, encarnações de forças ou fraquezas, companheiros imaginários que o autor perdeu, ou tudo isto simultaneamente.
(…)
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A propósito, em princípio vamos ao Porto no Natal, tentando contornar as greves de comboio. (Mais perto da data envio-te uma mensagem, para combinarmos um encontro, se estiveres livre.)