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O que não se consegue perceber a cem por cento

Um dos meus parágrafos preferidos de Walden, talvez o preferido, é este, na secção “Economia”:  

“Há muito tempo perdi um cão de caça, um cavalo baio e uma rola; procuro-os até hoje. Falei com muitos viajantes sobre eles, descrevendo os seus percursos habituais e os chamamentos a que respondiam. Um ou dois tinham ouvido o cão, o galope do cavalo e até visto a rola desaparecer atrás de uma nuvem, parecendo tão ansiosos por encontrá-los como se eles próprios os tivessem perdido.” (minha tradução, para a Relógio D’Água).  

Gosto particularmente desta passagem pelo facto de resistir às explicações dos comentadores,  que a consideram o momento mais enigmático do livro. Todos os livros deviam ter passagens que os leitores, os comentadores e os tradutores não conseguem perceber a cem por cento — e que os autores não querem decifrar. Os estudiosos tentam identificar as possíveis referências do cão de caça, do cavalo baio e da rola que Thoreau menciona, especulando que devem ser pessoas, mas podem ser só ideias, sentimentos, encarnações de forças ou fraquezas, companheiros imaginários que o autor perdeu, ou tudo isto simultaneamente. 

(…) 


Comentários

Alexandra disse…
Oh, obrigada!

A propósito, em princípio vamos ao Porto no Natal, tentando contornar as greves de comboio. (Mais perto da data envio-te uma mensagem, para combinarmos um encontro, se estiveres livre.)
c disse…
Sim, vou estar por cá e livre na semana depois do Natal.
Alexandra disse…
Depois combinamos! Beijinhos.