(...) À Sophia apaixonava-a um trabalho rigoroso das palavras mas sabia como ninguém que a língua é uma coisa viva, parte fundamental do pensamento, e gostava que o trabalho de fazer os acertos na tradução permitissem conversas que as próprias palavras suscitavam. Para se perceber as suas escolhas de tradutora tem de se entender a sua ideia de tradução: uma verdadeira interiorização, até musical, do texto inglês e a resposta — como se fosse um eco que falasse português e que tantas vezes parecia tradução literal, sendo no entanto o resultado de uma escolha não a favor da fidelidade literal mas sim de outra fidelidade mais inteligentemente entendida, a fidelidade de encontrar em português uma linguagem teatral para um texto destinado a ser representado e a uma poética sua, fiel à de Shakespeare. (...)
Luís Miguel Cintra, prefácio a «Muito barulho por nada»
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