Apercebi-me do caso da Cristina Bartleby (na verdade chama-se Cristina Freitas Branco, embora também já tenha assinado com o nome intermédio Luísa Freitas ou até com as iniciais clrfb) em 2014. Na altura investiguei um pouco e verifiquei que os textos que ela publicava — por todo o lado e em grande quantidade — era corta e cola quase automático, sem itálicos, sem referências, sem links, sem nada. A Cristina Bartleby não trabalha sobre citações, não se dá à canseira de estabelecer variações ou montagens (nem tem estaleca para tal), apropria-se de modo atabalhoado e indevido de frases. Como um glutão, engole o que os outros escrevem, mistura e depois regurgita fiapos disto e daquilo sem qualquer coesão interna nem deriva total — é mesmo só um vómito.
Como copia principalmente da internet, não é difícil encontrar a fonte, basta pegar numa frase curta, colocá-la entre aspas no google e a maior parte das vezes vai dar a arquivos de blogues. Para despistar, ela muda uma ou outra palavra, “bêbedo” em vez de “ébrio”, “pedra” em vez de “rocha”; ou elimina um verbo “os olhos (são) porosos como seixos”, um pronome “a sinfonia (que) acaba de concluir”, um adjectivo "dois lutadores (morenos e) impacientes" — truques banais que não impedem uma pesquisa perseverante de seguir o rasto das frases até à origem mas, sem dúvida, sublinham a dissimulação do gesto, a intenção malévola, o carácter mesquinho de CB.
Cheguei à fala com a CB em 2014, apresentei queixa da parte que me tocava e, depois de umas justificações sonsas, achei que a coisa ficava por ali. Foi um pensamento ingénuo, porque estes fenómenos tendem a crescer, para mais em locais fechados e de vaidade galopante. E assim aconteceu nestes cinco anos: CB assentou arraiais no condomínio maravilhoso do facebook, imagino que tenha ganho fama e corte e, num salto arrojado de consagração (e desvario?), saltou para o papel e para o espaço público.
Aqui convém fazer uma pausa para lamentar que o sentido crítico do que se escreve e publica, principalmente em forma de poesia, está a nível abaixo de rasteiro. Dá a impressão que já ninguém sabe ler, passam apenas os olhos pelas palavras e pela pose do artista?
Proponho-me agora explicar o método da CB através de exercícios práticos começando, em velocidade moderada, pelo fim, o livro “O primeiro poeta que despi” recentemente editado pela Douda Correria. Não me dei ao trabalho de ir a uma livraria folheá-lo, por isso cito apenas o material disponibilizado pela editora aqui.
1. O currículo, tirando a parte de perder a vergonha na cara, é sacado do Gabriel Resende Santos. O acto de copiar o percurso deve vir da mesma pulsão que a levou a abastardar o apelido de uma personagem literária que, ao contrário dela, prefere não agir e quase não come.
2. Os primeiros versos deste texto são copiados do blogue "Pedro e o lobo" entre abril e maio de 2008:
não saio daqui tão cedo
e assim fiz.
se honras pai e mãe e possuis um altar
de Freud no teu quarto, ignora
esta mensagem
tudo por causa deste valente
problema: I would prefer not to
3. E ainda estes textos encontrados na net:
o silêncio é uma pedra imensa
atada à garganta
veio a saudade e mordeu-a
Os dois primeiros versos foram tirados do poema "Silêncio" de José Agostinho Baptista (pode ser lido aqui). Para encobrir a origem, CB eliminou a palavra “como” e substituiu “encostada” por “atada” A terceira frase vem daqui.
abrir o coração em parêntesis
deter o tempo
e que se foda o espaço
Vem tudo daqui.
Para quem achar que isto é pouco e não configura más artes que causam dolo, segue-se a segunda parte da argumentação com exemplos à linha.
Como copia principalmente da internet, não é difícil encontrar a fonte, basta pegar numa frase curta, colocá-la entre aspas no google e a maior parte das vezes vai dar a arquivos de blogues. Para despistar, ela muda uma ou outra palavra, “bêbedo” em vez de “ébrio”, “pedra” em vez de “rocha”; ou elimina um verbo “os olhos (
Cheguei à fala com a CB em 2014, apresentei queixa da parte que me tocava e, depois de umas justificações sonsas, achei que a coisa ficava por ali. Foi um pensamento ingénuo, porque estes fenómenos tendem a crescer, para mais em locais fechados e de vaidade galopante. E assim aconteceu nestes cinco anos: CB assentou arraiais no condomínio maravilhoso do facebook, imagino que tenha ganho fama e corte e, num salto arrojado de consagração (e desvario?), saltou para o papel e para o espaço público.
Aqui convém fazer uma pausa para lamentar que o sentido crítico do que se escreve e publica, principalmente em forma de poesia, está a nível abaixo de rasteiro. Dá a impressão que já ninguém sabe ler, passam apenas os olhos pelas palavras e pela pose do artista?
Proponho-me agora explicar o método da CB através de exercícios práticos começando, em velocidade moderada, pelo fim, o livro “O primeiro poeta que despi” recentemente editado pela Douda Correria. Não me dei ao trabalho de ir a uma livraria folheá-lo, por isso cito apenas o material disponibilizado pela editora aqui.
1. O currículo, tirando a parte de perder a vergonha na cara, é sacado do Gabriel Resende Santos. O acto de copiar o percurso deve vir da mesma pulsão que a levou a abastardar o apelido de uma personagem literária que, ao contrário dela, prefere não agir e quase não come.
2. Os primeiros versos deste texto são copiados do blogue "Pedro e o lobo" entre abril e maio de 2008:
não saio daqui tão cedo
e assim fiz.
se honras pai e mãe e possuis um altar
de Freud no teu quarto, ignora
esta mensagem
tudo por causa deste valente
problema: I would prefer not to
3. E ainda estes textos encontrados na net:
o silêncio é uma pedra imensa
atada à garganta
veio a saudade e mordeu-a
Os dois primeiros versos foram tirados do poema "Silêncio" de José Agostinho Baptista (pode ser lido aqui). Para encobrir a origem, CB eliminou a palavra “como” e substituiu “encostada” por “atada” A terceira frase vem daqui.
abrir o coração em parêntesis
deter o tempo
e que se foda o espaço
Vem tudo daqui.
Para quem achar que isto é pouco e não configura más artes que causam dolo, segue-se a segunda parte da argumentação com exemplos à linha.
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