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Não é assim tão simples

“Tenho de falar inglês de um modo que não revele a minha personalidade”, respondeu. “A tradução é assim. A personalidade do tradutor tem de se esconder.”
“Estás a dizer que te escondes dentro de todas as línguas que traduzes? Como alguém se esconde numa floresta?
Encolheu os ombros. “Não é assim tão simples.” Depois riu-se.


O homem que via tudo, de Deborah Levy. Tradução de Alda Rodrigues.

Comentários

Alexandra disse…
Ahahah! Já não me lembrava disto :)
Pois, mas nas palavras ninguém se esconde, independentemente da língua usada.
c disse…
Não estou certa disso, quer dizer, acho que as palavras servem e não servem para nos escondermos.

O livro é muito atraente, faz-me lembrar Mulholland Drive . Queria sair para ir ver um dos filmes da Kinuyo Tanaka e não consigo nem fechar o livro nem deixar de pensar nele.
c disse…
Nem de propósito, voltei ao livro (estou quase a acabar) e li:
Queria que ele ficasse e queria que se fosse embora.

Há bocado, depois de me ter passado pela cabeça a associação ao David Lynch, li:
“O elevador chegou", anunciei teatralmente, como se fosse uma limusine.
e achei a frase — ou a imagem? — lynchiana.

Talvez seja um livro embruxado:D
Alexandra disse…
Sim, é um livro em que a dimensão irracional é muito importante. Se calhar, mais do que tudo o resto. Nesse aspecto, é lynchiano.
Ainda não li aqueles três volumes autobiográficos da Deborah Levy, mas tenho interesse em ler, apesar de, em geral, preferir escritoras e e escritores (e até cinema) mais precisos e mais racionais na linguagem e na narrativa.
c disse…
Fiz umas pesquisas e ela admite influências de David Lynch (o filme de que gosta mais é “Blue velvet”).

Numa fórmula, diria que o livro é uma versão lynchiana do anjo da história.

É o segundo livro que leio dela (li um dos autobiográficos e gostei muito e também gostei muito da tua tradução).