“Tenho de falar inglês de um modo que não revele a minha personalidade”, respondeu. “A tradução é assim. A personalidade do tradutor tem de se esconder.”
“Estás a dizer que te escondes dentro de todas as línguas que traduzes? Como alguém se esconde numa floresta?
Encolheu os ombros. “Não é assim tão simples.” Depois riu-se.
O homem que via tudo, de Deborah Levy. Tradução de Alda Rodrigues.
Comentários
Pois, mas nas palavras ninguém se esconde, independentemente da língua usada.
O livro é muito atraente, faz-me lembrar Mulholland Drive . Queria sair para ir ver um dos filmes da Kinuyo Tanaka e não consigo nem fechar o livro nem deixar de pensar nele.
Queria que ele ficasse e queria que se fosse embora.
Há bocado, depois de me ter passado pela cabeça a associação ao David Lynch, li:
“O elevador chegou", anunciei teatralmente, como se fosse uma limusine.
e achei a frase — ou a imagem? — lynchiana.
Talvez seja um livro embruxado:D
Ainda não li aqueles três volumes autobiográficos da Deborah Levy, mas tenho interesse em ler, apesar de, em geral, preferir escritoras e e escritores (e até cinema) mais precisos e mais racionais na linguagem e na narrativa.
Numa fórmula, diria que o livro é uma versão lynchiana do anjo da história.
É o segundo livro que leio dela (li um dos autobiográficos e gostei muito e também gostei muito da tua tradução).