O aspecto mais fascinante de Five Easy Pieces , de Milo Rau, é a arquitectura. Quer dizer, a maneira como os elementos encaixam entre si, sugerindo uma construção de Lego com instruções precisas de montagem e sem margem para o improviso. Se retirarmos os elementos acessórios, ficam duas peças-mestras: a peça das crianças, que acontece no palco, e a peça para adultos, que se desenrola na cabeça dos espectadores. Em Five Easy Pieces há, pois, duas peças dispostas de maneira a evoluírem em simultâneo. Os actores crianças representam uma história que funciona para eles como uma fábula, à maneira tradicional dos irmãos Grimm, com vítimas inocentes e um lobo mau, e interpretada segundo a lógica de uma série televisiva de detectives. Trata-se de um jogo de faz-de-conta, excitante e, de certa forma, divertido. E há uma segunda história, baseada no caso real de Marc Dutroux, pedófilo e assassino confesso de várias crianças, que horrorizou a Bélgica e a Europa nos anos 90. As duas perspecti...
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral