O aspecto mais fascinante de Five Easy Pieces, de Milo Rau, é a arquitectura. Quer dizer, a maneira como os elementos encaixam entre si, sugerindo uma construção de Lego com instruções precisas de montagem e sem margem para o improviso. Se retirarmos os elementos acessórios, ficam duas peças-mestras: a peça das crianças, que acontece no palco, e a peça para adultos, que se desenrola na cabeça dos espectadores.
Em Five Easy Pieces há, pois, duas peças dispostas de maneira a evoluírem em simultâneo. Os actores crianças representam uma história que funciona para eles como uma fábula, à maneira tradicional dos irmãos Grimm, com vítimas inocentes e um lobo mau, e interpretada segundo a lógica de uma série televisiva de detectives. Trata-se de um jogo de faz-de-conta, excitante e, de certa forma, divertido. E há uma segunda história, baseada no caso real de Marc Dutroux, pedófilo e assassino confesso de várias crianças, que horrorizou a Bélgica e a Europa nos anos 90. As duas perspectivas - a das crianças actores e a dos adultos espectadores - partilham exactamente o mesmo texto, os mesmos gestos, os mesmos dispositivos.
Tentando ser mais claro: aquilo que se passa em Five Easy Pieces é uma coisa para as crianças e outra bastante diferente para os adultos, sendo paradoxalmente a mesma coisa. O que acontece - e aqui reside o extraordinário truque de Milo Rau - é que a presença das crianças no palco torna a peça desconfortável e ao mesmo tempo apaziguadora. Desconfortável porque elas evocam directamente todo o horror do caso Dutroux, e apaziguadora porque nos lembram a cada momento que aquilo a que estamos a assistir é “apenas” teatro, isto é, faz-de-conta.
Em Five Easy Pieces há, pois, duas peças dispostas de maneira a evoluírem em simultâneo. Os actores crianças representam uma história que funciona para eles como uma fábula, à maneira tradicional dos irmãos Grimm, com vítimas inocentes e um lobo mau, e interpretada segundo a lógica de uma série televisiva de detectives. Trata-se de um jogo de faz-de-conta, excitante e, de certa forma, divertido. E há uma segunda história, baseada no caso real de Marc Dutroux, pedófilo e assassino confesso de várias crianças, que horrorizou a Bélgica e a Europa nos anos 90. As duas perspectivas - a das crianças actores e a dos adultos espectadores - partilham exactamente o mesmo texto, os mesmos gestos, os mesmos dispositivos.
Tentando ser mais claro: aquilo que se passa em Five Easy Pieces é uma coisa para as crianças e outra bastante diferente para os adultos, sendo paradoxalmente a mesma coisa. O que acontece - e aqui reside o extraordinário truque de Milo Rau - é que a presença das crianças no palco torna a peça desconfortável e ao mesmo tempo apaziguadora. Desconfortável porque elas evocam directamente todo o horror do caso Dutroux, e apaziguadora porque nos lembram a cada momento que aquilo a que estamos a assistir é “apenas” teatro, isto é, faz-de-conta.
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