Falando fria e cruamente, Nikolai Jurowski tornou-se uma pessoa esquisita. Muito esquisita. Uma pessoa muito, muito esquisita. Um dia começou a ler e nunca mais parou. Volume após volume, um livro a seguir ao outro, milhares e milhares de páginas. Não porque gostasse excessivamente de ler, mas porque acreditava que se levantasse a cabeça e desviasse os olhos das palavras morreria de imediato. Assim, pregado aos livros, manhãs, tardes, noites, imóvel, rosto sem brilho como uma parede branca, sempre em suores e com os cabelos em pé, Nikolai lia, lia, lia tudo sofregamente para escapar ao triste fim que ele imaginava estar-lhe destinado. Era penoso ver um homem com quase dois metros e um nariz enorme devorando página atrás de página para salvar a vida. Ele que impressionara os seus rivais com cintilantes demonstrações de ciência. Ele que enfrentara a úlcera de estômago chupando simples pastilhas digestivas. Ele que vira as mais belas noites de Outono, com as suas nuvens fugidias. O mais...