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O cavalo e a mosca

Um grupo de homens alemães chega ao sul da Bulgária para construir uma barragem. Essa é a única linha narrativa de “Western”, o resto são fragmentos que se desenrolam quase sem objectivo.

No princípio só vemos a vegetação, as pedras, o rio, as montanhas. Depois vamos diferenciando cada um dos homens e aproximamo-nos de Meinhart, um tipo calado e, talvez por causa disso, um bocado antiquado. Surge uma aldeia e as pessoas que lá vivem. Conversam, bebem, estabelecem-se relações. Ouve-se uma mosca. Há uma festa.

A determinada altura, uma das personagens diz que parece uma viagem no tempo, para o passado. E está certa — é uma viagem no tempo não só para aqueles homens mas para o próprio filme. É como se Valeska Grisebach conseguisse filmar sem criar imagens, regista o que se vai passando em redor sem o cristalizar.

Os diálogos entre os alemães e os búlgaros são muito básicos, entendem poucas palavras uns dos outros, vão ensinando o som que corresponde a pau ou a rosto ou a liberdade. A palavra liberdade é repetida muitas vezes em línguas diferentes e é uma das mais importantes características de “Western”, mesmo se não sabemos bem o que quer dizer.

Quando temos constantemente de fechar os olhos porque estamos fartos de imagens processadas e tapar os ouvidos porque já não aguentamos tanta música e tantas palavras em vão, é bom seguir a câmara despretensiosa de Valeska Grisebach. Se tivermos sorte, o melhor que nos pode acontecer é adormecer e sonhar que somos um cavalo.

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