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Porque lêem o Evangelho, porque rezam?

Leio no jornal o relato de novos crimes cometidos pelas autoridades gregas contra refugiados que tentam atravessar o Mediterrâneo em direcção à Europa. Agora, além de impedirem as embarcações de chegarem a terra, também levam refugiados de terra para o alto-mar, expondo-os ao risco iminente de naufrágio e morte. O The New York Times relata o caso, documentado em vídeo, de um grupo de refugiados com várias crianças e um bebé levado de Lesbos pelas autoridades gregas e abandonado no mar Egeu.

Na novela A minha vida, Tchékhov escreve:

Em que é que estes homens estúpidos, cruéis, preguiçosos, desonestos, são melhores do que os mujiques bêbados e supersticiosos, ou do que os animais, eles que também se transtornam assim que qualquer acontecimento vem quebrar a monotonia da sua vida, limitada pelos seus instintos? Lembro-me de cães torturados até à morte, ou que enlouqueceram, de pardais depenados vivos por garotos e lançados depois à água, e de toda uma longa, longa vida de lentos e mudos sofrimentos que pude observar naquela cidade desde a minha infância. E não consigo compreender como vivem os seus sessenta mil habitantes, porque lêem o Evangelho, porque rezam, porque lêem livros e revistas.
(Citado por Roger Garnier, em Olhai a neve a cair. Tradução de Manuel de Freitas.)

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