O facto de os tiranos mundiais se situarem na extraterritorialidade explica a extensão do seu poder de vigilância, mas denota também a sua futura fraqueza. Operam no ciberespaço e moram em condomínios guardados. Não têm nenhum conhecimento da terra que os rodeia. Além disso, rejeitam este conhecimento como superficial, desprovido de profundidade. Para eles, só contam as matérias-primas que extraem. São incapazes de ouvir a terra. Quando pisam o chão, são cegos. No plano local, estão perdidos.
Para os companheiros de prisão, é o contrário que é verdade. As celas tem paredes que alcançam o mundo inteiro. Os actos determinantes de uma resistência prolongada terão raízes no que é local, no local próximo e distante. Resistência do interior, ao escutar a terra.
A liberdade está lentamente a ser descoberta, não no exterior da prisão, mas nas suas profundezas.
Entretanto, de John Berger. Tradução de Júlio Henriques. Antígona. Outubro 2018.
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