De todos os objectos que existem no mundo, o guarda-chuva é aquele que presta ao homem os mais assinalados e distintos serviços. Certamente o automóvel e a escova de dentes foram e continuam a ser utilíssimos auxiliares. Ambos, de resto, com uma brilhante folha de serviços em prol da civilização moderna. No entanto, o guarda-chuva é o único que verdadeiramente compreende o homem e que procura servi-lo sem a preocupação de quaisquer benefícios materiais. É o único que procura espontaneamente o convívio constante com o dono e que conhece todas as pessoas da família, como se dela fizesse parte.
Não pretendo aqui tecer mais um hino às virtudes do guarda-chuva, a propósito do qual já se escreveram as mais lisonjeiras referências, não só em obras da especialidade*, mas também e sobretudo em belas páginas de eminentes prosadores, poetas, teólogos e filósofos. A nossa intenção é apenas enumerar objectivamente algumas das qualidades naturais do guarda-chuva.
Ora, no seu brilhante palmarés figuram inúmeras aptidões de grande utilidade: persegue e desmascara criminosos; conduz os cegos, com extremos de zelosa solicitude; socorre os viandantes transviados nas tempestades; lança-se à água para salvar vidas humanas; vai, espontaneamente e por vezes a grandes distâncias, pedir socorro para sinistrados.
Além desta brilhante folha de serviços, tão distintos dos que podem ser prestados por quaisquer outros objectos, alguns donos pouco escrupulosos, aproveitando a inteligência e extrema dedicação dos guarda-chuvas, instruem-nos nas abomináveis artes dos contrabandistas, e a verdade é que fazem deles insuperáveis cooperadores.
Enfim, através da sua natural bondade, o guarda-chuva “fala” uma linguagem silenciosa, pela qual manifesta os seus desejos, sentimentos e intenções, sempre com uma verdade e franqueza que bem podem servir de exemplo ao homem, se este não fosse, fundamental e incorrigivelmente, um dissimulador.
* Sobre este ponto veja-se Suárez de Mendonza, Marinesco e Douney.
Não pretendo aqui tecer mais um hino às virtudes do guarda-chuva, a propósito do qual já se escreveram as mais lisonjeiras referências, não só em obras da especialidade*, mas também e sobretudo em belas páginas de eminentes prosadores, poetas, teólogos e filósofos. A nossa intenção é apenas enumerar objectivamente algumas das qualidades naturais do guarda-chuva.
Ora, no seu brilhante palmarés figuram inúmeras aptidões de grande utilidade: persegue e desmascara criminosos; conduz os cegos, com extremos de zelosa solicitude; socorre os viandantes transviados nas tempestades; lança-se à água para salvar vidas humanas; vai, espontaneamente e por vezes a grandes distâncias, pedir socorro para sinistrados.
Além desta brilhante folha de serviços, tão distintos dos que podem ser prestados por quaisquer outros objectos, alguns donos pouco escrupulosos, aproveitando a inteligência e extrema dedicação dos guarda-chuvas, instruem-nos nas abomináveis artes dos contrabandistas, e a verdade é que fazem deles insuperáveis cooperadores.
Enfim, através da sua natural bondade, o guarda-chuva “fala” uma linguagem silenciosa, pela qual manifesta os seus desejos, sentimentos e intenções, sempre com uma verdade e franqueza que bem podem servir de exemplo ao homem, se este não fosse, fundamental e incorrigivelmente, um dissimulador.
* Sobre este ponto veja-se Suárez de Mendonza, Marinesco e Douney.
Comentários
Esse objecto, da era moderna, desempenha uma missão tão importante na minha vida, que só este ano, em poucas semanas, já possui três!
Lamentavelmente, podem possuir muitos atributos e mil funções, mas cada vez são mais fracalhotes.
A sua linguagem deixa muito a desejar...Talvez, por isso, os homens os dispensem tanto.
PS: Com grande pena minha e devido à intempérie - onde nem o guarda-chuva, com meia-dúzia de varetas partidas, me valeu - ontem não me foi possível deslocar-me à Rua do Rosário. Fiquei-me por Costa Cabral!
Janita