Um joven escritor contou-me que viu cinco ou seis garotos brincarem à guerra num jardim público. Divididos em dois grupos, preparavam-se para o ataque. A noite ia descer, diziam eles. Mas no céu era meio-dia. Decidiram, então, que um deles seria a Noite. Transformado em elementar, o mais jovem e mais franzino foi, então, o Senhor dos Combates. "Ele" era a Hora, o Momento, o Inelutável. Ao que parece, chegava de muito longe com a calma de um ciclo, mas entorpecido pela tristeza e pela pompa crepusculares. À medida que se aproximava, os outros, os Homens, ficavam nervosos, inquietos… mas a criança, fazendo como lhe parecia, chegava cedo de mais. Estava adiantada a si própria: por comum acordo, as Tropas e os Chefes decidiram suprimir a Noite, que passou a ser soldado de um dos campos… Só a partir desta fórmula um teatro conseguiria encantar-me.
Jean Genet, No sentido da noite. Tradução de Aníbal Fernandes.
Jean Genet, No sentido da noite. Tradução de Aníbal Fernandes.
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