É sabido que, de todos os seres que habitam o planeta, as árvores são os mais reservados, sensíveis e esquivos. Não existem outros iguais, nem sequer parecidos. Para o provar, basta lembrar o limitadíssimo número de humanos que conseguiu observar duas árvores a fazer amor. Para além de mim, apenas mais três ou quatro pessoas, incluindo, segundo creio, Mozart*.
Os seus transportes amorosos são regidos pelo mais profundo segredo. As árvores têm um faro muito apurado e nem por um só instante se deixam surpreender. Armadas de infinita paciência, esperam durante anos pelo momento certo para gozarem tranquilamente os doces prazeres, em dias de pesado e denso nevoeiro. O tema tem sido, por isso, campo fértil para a imaginação e a fantasia, existindo teorias para todos os gostos, algumas das quais bastante engenhosas e extraordinárias.
Para esgotar duma vez este assunto e desembaraçar-me dele para sempre, vou descrever os factos tal como os testemunhei, deixando aos leitores o encargo de formular o seu próprio juízo. Esta é a verdade: as árvores fazem amor sem moverem uma raiz, um raminho, uma folha sequer. Levantam voo aos pares, caem por terra, levantam voo de novo, giram no ar como longas borboletas, envolvem-se em tocantes e misteriosos bailados, e voltam a pousar sem saírem do sítio, sem um gesto. Frágeis como o orvalho da manhã, breves como um clarão de luz.
E acabou-se. Tudo se resume a isto. Disse até mais do que o necessário. E quem diz o que sabe, faz o que pode e dá o que tem, não é obrigado a mais.
* Algumas peças de Wolfgang Amadeus, em especial o Quarteto de Cordas n.º 22, parecem confirmar a minha convicção de que o compositor também terá visto árvores em cupidinosas relações.
Publicado na página do Bairro dos Livros, no Porto24.
Os seus transportes amorosos são regidos pelo mais profundo segredo. As árvores têm um faro muito apurado e nem por um só instante se deixam surpreender. Armadas de infinita paciência, esperam durante anos pelo momento certo para gozarem tranquilamente os doces prazeres, em dias de pesado e denso nevoeiro. O tema tem sido, por isso, campo fértil para a imaginação e a fantasia, existindo teorias para todos os gostos, algumas das quais bastante engenhosas e extraordinárias.
Para esgotar duma vez este assunto e desembaraçar-me dele para sempre, vou descrever os factos tal como os testemunhei, deixando aos leitores o encargo de formular o seu próprio juízo. Esta é a verdade: as árvores fazem amor sem moverem uma raiz, um raminho, uma folha sequer. Levantam voo aos pares, caem por terra, levantam voo de novo, giram no ar como longas borboletas, envolvem-se em tocantes e misteriosos bailados, e voltam a pousar sem saírem do sítio, sem um gesto. Frágeis como o orvalho da manhã, breves como um clarão de luz.
E acabou-se. Tudo se resume a isto. Disse até mais do que o necessário. E quem diz o que sabe, faz o que pode e dá o que tem, não é obrigado a mais.
* Algumas peças de Wolfgang Amadeus, em especial o Quarteto de Cordas n.º 22, parecem confirmar a minha convicção de que o compositor também terá visto árvores em cupidinosas relações.
Publicado na página do Bairro dos Livros, no Porto24.
Comentários
Estou boquiaberta...