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Notas sobre "Lançamento": Partilhas e Heranças

Margarida Vale de Gato move-se essencialmente no interior de formas canónicas. Há um tom, uma temperatura, uma música, que remetem para a poesia “clássica”, digamos assim. O desvio, a subversão, a ruptura com o cânone, faz-se por dentro dos poemas, pela costura. Quer dizer, não se ostenta, não se mostra, não há fogo-de-artíficio, nem espectáculo de luz e som, não se agita nenhuma bandeira novíssima para rejeitar a tradição e a herança. De resto, há um enorme prazer no trabalho meticuloso em torno da palavra e da forma, que não me parece muito comum nos poetas da sua geração (o primeiro nome que me ocorre é o de Rui Lage). “Edgardo” é um soneto que convoca imagens de “O Corvo”, de Edgar (Edgardo) Allan Poe, autor que MVG traduziu e estudou. “Estudando a coisa árida penso ora/ por que não um soneto panegírico.” Mas é um soneto que não respeita todas as regras e que recorre, também neste caso, ao humor e à sátira: “E o corvo que grasnava deixa lá/ já nem o vês passou está só ali.” E é o humor, entre outros truques, que lhe confere a necessária leveza e espessura modernas.

Comentários

Unknown disse…
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