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Passado e presente

As coisas mais simples são as mais complexas. Pensemos na memória. Existirá material mais simples e democrático do que a memória? E, no entanto, existirá coisa mais complexa? Em Olhares Lugares, Agnés Varda transforma a memória num material tão simples e vivo como um campo de girassóis. A história, a passagem do tempo, a ruína, que abre rugas profundas no mundo e em nós, transforma-se numa celebração da vida. Porque, muito simplesmente, são a matéria de que todos somos feitos. Uma aldeia de casas abandonadas ou um velho bairro mineiro ameaçado de demolição são lugares vivos porque carregados de memória.
Num dos mais belos momentos do filme, Agnés Varda revela que a idade lhe trouxe problemas de visão; as coisas surgem-lhe desfocadas. A visão desfocada de Varda dá-nos a ver o mundo justamente como ele é: um milagre, um milagre feito de sombra e luz, cores esbatidas e nítidas, morte e vida. A simplicidade, isto é, a sabedoria de Varda é uma absoluta lição de arte e génio.
Olhares Lugares é um dos filmes mais optimistas que me recordo de ter visto.



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