Georges Franju é um apaixonado pela botânica. Ou melhor, por um qualquer ramo secreto da botânica para o qual não existe nome. Olhos sem rosto começa e termina com árvores. Não existe praticamente um plano exterior onde não se aviste uma ou mais árvores. Altas, sombrias, vigilantes. E nas loucas tentativas do cirurgião Génessier em reconstituir o rosto da filha Christiane, desfigurado num acidente de carro, há a mesma obsessão botânica: o processo é idêntico ao de um enxerto. Génessier arranca a pele do rosto de outras raparigas e enxerta-o no rosto da filha. Ora, um enxerto é sempre uma forma de violência exercida sobre a natureza. E uma operação bem sucedida, tanto em botânica como na medicina, é sempre um triunfo do Homem sobre a ordem natural das coisas. No filme de Franju, porém, como em Frankenstein, de Mary Shelley, é a natureza que triunfa sobre a nossa vontade e os nossos sonhos de poder. No final, resta o corpo incompleto de Christiane, avançando como um fantasma por entre as árvores.
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