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À escolha

Através dos tempos, a Verdade não tem sido a grande Rameira do espírito, a grande Galdéria da alma? Só Deus sabe se não deu em deboche com os primeiros homens que apareceram na terra depois do Génesis! Artistas, papas, labregos, reis, todos chegaram a possuí-la e a ter a certeza de que ela era só deles, à menor dúvida forneciam argumentos que não tinham réplica, que eram irrefutáveis, que eram decisivas provas.
Para uns sobrenatural, para outros terrestre, semeou indiferentemente a convicção na Mesopotâmia das almas superiores e da parvónia espiritual dos idiotas. A todos fez festas de acordo com o seu temperamento, de acordo com as suas ilusões, as suas manias, a sua idade, ofereceu-se à concupiscência de certezas que em todos existia, e fê-lo sem regatear a posição e dos dois lados, à escolha.

J. K. Huysmans, O castelo do homem ancorado (En rade, no original). Tradução de Aníbal Fernandes. 

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