- Mas eu gosto de ser vagabundo - murmurou o rapaz.
- Ora! Ora! Isso é porque não tens mulher, é o que é! Vais ver que daqui para o futuro já não te agradará essa vida. Ela vai prender-te, não tenhas medo. Agarra-te bem a ela, meu filho, agarra-te bem! Estás a ver como ela é? Aquilo é uma fortaleza! Uma autêntica montanha!
- Não me agrada nada que ela seja assim tão forte! - exclamou Kajica em voz alta.
- Não te agrada? Mas porquê? Anda! Diz lá porquê? - perguntou o velho, arregalando os olhos.
- Assim... não me agrada - gaguejou Kajica. - Tenho medo...
- Não tens de ter medo, meu filho - enterneceu-se o velho. - O que importa é aguentares-te a primeira noite, como um valente. Depois, de nada lhe servirá sequer o facto de ser assim tão grande e tão forte. Podes ter a certeza disso. Passa a ser como se não existisse. Torna-se pequena e impotente como uma rã virada de costas.
- Eu cá tenho sempre medo dela - respondeu Kajica, sincero, com a voz a tremer.
- Mas porque é que hás-de ter medo? - volveu o velho, com tristeza. - Tens todas as condições para cumprir a tua obrigação, não é verdade? És capaz de... Sabes a que me refiro, não sabes? Bem! Não tenhas vergonha de dizer ao teu tio. Fala! Desabafa! Imagina que eu sou um companheiro teu. Vá! Anda! Diz lá que és como todos os outros. Dá lá essa alegria ao teu tio...
- Sim - respondeu Kajica, ruborizado. - Sou exactamente como os outros.
- E... és bem fornecido? Essa... coisa não é pequenina de mais? - inquiriu o velho, sem ousar fitar o sobrinho.
- Não! Não é - respondeu este.
Num movimento espontâneo, o velho deu-lhe uma palmada no ombro. Kajica encolheu-se e esboçou um movimento de defesa, mas não conseguiu esquivar-se. O velho, fez explodir uma sonora gargalhada, deu um murro na parede branca da casa e começou:
- Então, se as coisas estão nesse pé, não quero mais ouvir-te falar em medo. Que nunca mais eu ouça essa palavra sair-te dos lábios, entendes? Nunca mais me fales em tal coisa. Um rapaz como tu, com medo! Que vergonha! Vais mais é falar-me de outras coisas. Por exemplo, da maneira como esta noite vais fazê-la gritar pela mãe. De como a hás-de subjugar inteiramente, como homem que és. Dos filhos que lhe hás-de fazer. É isto que deves contar ao teu tio, sim? E os filhos hão-de chupá-la e esticá-la como uma loba. Sim, é isto que me deves contar. (...) Agora quero qualquer coisa de substancial... e próprio de ti... do meu sangue... hem! Tens de nos fabricar um herdeiro, pois então! Um morenaço... porque o nosso sangue parece que se transformou em capilé e todos nós esperamos que sejas tu que nos salves... e não estejas em cuidados por ela: é sã como um pêro e forte como uma vitela... agora basta que tu faças a tua obrigação: bem sabes que ninguém mais pode fazê-la...
Miodrag Bulatovic, O galo vermelho. Tradução (a partir da edição italiana) de Fernando Moreira Ferreira.
- Ora! Ora! Isso é porque não tens mulher, é o que é! Vais ver que daqui para o futuro já não te agradará essa vida. Ela vai prender-te, não tenhas medo. Agarra-te bem a ela, meu filho, agarra-te bem! Estás a ver como ela é? Aquilo é uma fortaleza! Uma autêntica montanha!
- Não me agrada nada que ela seja assim tão forte! - exclamou Kajica em voz alta.
- Não te agrada? Mas porquê? Anda! Diz lá porquê? - perguntou o velho, arregalando os olhos.
- Assim... não me agrada - gaguejou Kajica. - Tenho medo...
- Não tens de ter medo, meu filho - enterneceu-se o velho. - O que importa é aguentares-te a primeira noite, como um valente. Depois, de nada lhe servirá sequer o facto de ser assim tão grande e tão forte. Podes ter a certeza disso. Passa a ser como se não existisse. Torna-se pequena e impotente como uma rã virada de costas.
- Eu cá tenho sempre medo dela - respondeu Kajica, sincero, com a voz a tremer.
- Mas porque é que hás-de ter medo? - volveu o velho, com tristeza. - Tens todas as condições para cumprir a tua obrigação, não é verdade? És capaz de... Sabes a que me refiro, não sabes? Bem! Não tenhas vergonha de dizer ao teu tio. Fala! Desabafa! Imagina que eu sou um companheiro teu. Vá! Anda! Diz lá que és como todos os outros. Dá lá essa alegria ao teu tio...
- Sim - respondeu Kajica, ruborizado. - Sou exactamente como os outros.
- E... és bem fornecido? Essa... coisa não é pequenina de mais? - inquiriu o velho, sem ousar fitar o sobrinho.
- Não! Não é - respondeu este.
Num movimento espontâneo, o velho deu-lhe uma palmada no ombro. Kajica encolheu-se e esboçou um movimento de defesa, mas não conseguiu esquivar-se. O velho, fez explodir uma sonora gargalhada, deu um murro na parede branca da casa e começou:
- Então, se as coisas estão nesse pé, não quero mais ouvir-te falar em medo. Que nunca mais eu ouça essa palavra sair-te dos lábios, entendes? Nunca mais me fales em tal coisa. Um rapaz como tu, com medo! Que vergonha! Vais mais é falar-me de outras coisas. Por exemplo, da maneira como esta noite vais fazê-la gritar pela mãe. De como a hás-de subjugar inteiramente, como homem que és. Dos filhos que lhe hás-de fazer. É isto que deves contar ao teu tio, sim? E os filhos hão-de chupá-la e esticá-la como uma loba. Sim, é isto que me deves contar. (...) Agora quero qualquer coisa de substancial... e próprio de ti... do meu sangue... hem! Tens de nos fabricar um herdeiro, pois então! Um morenaço... porque o nosso sangue parece que se transformou em capilé e todos nós esperamos que sejas tu que nos salves... e não estejas em cuidados por ela: é sã como um pêro e forte como uma vitela... agora basta que tu faças a tua obrigação: bem sabes que ninguém mais pode fazê-la...
Miodrag Bulatovic, O galo vermelho. Tradução (a partir da edição italiana) de Fernando Moreira Ferreira.
Comentários