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Mnémosyne

Algures, muito perto ou muito longe, dentro ou fora do mundo, há um lugar misterioso onde estão reunidas todas as nossas memórias. Aquelas de que nos lembramos, com mais ou menos imaginação, e as que nem desconfiamos que um dia foram nossas. Esse lugar está longe de ser um arquivo morto. As memórias estão vivas, têm a sua própria forma e existência. Têm a sua própria voz. Tocam-se, movem-se, relacionam-se, agridem-se, amam-se, talvez sonhem, talvez se reproduzam.

As memórias criam as suas próprias histórias. Talvez obras-primas secretas que estão para além das obras-primas que conhecemos. Como os textos invisíveis que provavelmente se escondem nos espaços em branco dos livros e que superam em beleza as linhas impressas a tinta. As memórias não dependem de nós para construir a sua própria vida em sociedade.

Às vezes, quando sonhamos, abre-se uma porta para esse estranho mundo e vemos as memórias diante de nós sem que tenhamos plena consciência de que as estamos a ver. Também acontece quando escrevemos uma história ou um poema que acreditamos ser «original», ou quando um pintor pinta um quadro, ou um fotógrafo monta um cenário, ou o corpo de um coreógrafo é percorrido pela misteriosa urgência de um certo movimento.

Parece-me que Mnémosyne é a tentativa de Josef Nadj de abrir uma janela para esse lugar secreto das memórias. Uma das mais assombrosas tentativas que me foi dado ver.

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