O que há de mais impressionante em O Homem-Pykante - Diálogos Kom Pimenta é justamente a presença avassaladora de Alberto Pimenta. Se Pimenta se mexe um pouco para a direita, a imagem descai para a direita. Se Pimenta sai do plano, o filme desaparece. A força do poeta — as mãos, o rosto, os olhos e, acima de tudo, a voz — domina a tal ponto o filme que o trabalho de Edgar Pêra corre em segundo plano. Na verdade, tudo o que Pêra possa acrescentar e que não se foque na figura de Alberto Pimenta (os planos de pantomima na porta aberta para o rio, por exemplo) estará sempre a mais. O sujeito do filme é o filme. A sala de cinema transforma-se então numa casa de oração e nós em fiéis e crédulos adoradores de um estranho xamã. Não interessa se a história que Pimenta conta a seu respeito é ou não verdade. Estamos prontos a acreditar em tudo. Nesse sentido, Alberto Pimenta é o realizador do filme de Edgar Pêra. E é exactamente este equívoco autoral que faz do filme não uma simples homenagem ao poeta, mas uma obra de arte.
Nota de rodapé:
Algo relativamente semelhante poder-se-ia escrever sobre Autografia, o filme que Miguel Gonçalves Mendes realizou sobre Cesariny. O filme é o que Cesariny quis que fosse. Nem mais, nem menos. No caso de Autografia, parece-me até que o papel do realizador é bastante mais secundário.
Nota de rodapé:
Algo relativamente semelhante poder-se-ia escrever sobre Autografia, o filme que Miguel Gonçalves Mendes realizou sobre Cesariny. O filme é o que Cesariny quis que fosse. Nem mais, nem menos. No caso de Autografia, parece-me até que o papel do realizador é bastante mais secundário.
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