A maior parte das vezes não respeito as intenções. Ontem saí de casa a pensar n’ O sino de Iris Murdoch mas, ao passar pelas novidades da biblioteca, não resisti ao Henry James e a um livro que se chama “Pequenos fogos em todo o lado” de Celeste Ng.
A capa reproduz uma fotografia aérea de uma zona de casas, árvores, ruas secundárias, grandes avenidas, urbanizada com esquadro e muitas regras e isso agradou-me, assim como os textos comerciais de abertura sobre Shaker Heights (era uma cidade construída para carros e para pessoas que tinham carros) e o apelido Ng da autora (lê-se “ing”).
Deixei a Maisie em lugar visível para me provocar e avancei para os pequenos fogos. Logo desde o início, pareceu-me tudo muito previsível e regrado, isto é, apesar de Mia ou até por causa de Mia (a personagem que traz os desastres) o romance sofre um bocado do mal que pretende examinar. Agora estou a meio e percebo que o problema maior é que o livro, mesmo antes de ser adaptado à televisão, já utiliza a linguagem das séries de luxo: é demasiado certinho e liso, não deixa nada por dizer, não tem zonas de sombra autêntica, só serve para recolha de informação linear. Faz lembrar o pão rústico da Bimbo. É pena, porque estabelecia uma boa ligação ao texto anterior sobre os vícios dos ricos.
“Durante as suas limpezas, Mia começou a observar cuidadosamente. Sabia que Trip tivera negativa num teste de Matemática através dos pedaços de papel rasgado no seu caixote do lixo, ou quando é que Moody tinha estado a escrever canções através das folhas de papel amachucadas no dele. Sabia que ninguém na família Richardson comia a crosta da piza ou bananas manchadas, que Lexie tinha predileção por revistas de sociedade e — de acordo com a sua estante — por Charles Dickens, que o Sr. Richardson gostava de comer sacos inteiros de rebuçados de caramelo recheados enquanto trabalhava, à noite, no seu escritório. Quando terminava uma hora e meia depois, a casa estava arrumada e ela tinha uma ideia relativamente clara daquilo que cada membro da família andava a fazer.” (páginas 76 e 77)
“Porque Shaker Heights era efectivamente bela. Por todo o lado nasciam relvados e jardins — os moradores prometiam manter as ervas daninhas arrancadas e cultivar apenas flores, nada de legumes.” (página 150)
A capa reproduz uma fotografia aérea de uma zona de casas, árvores, ruas secundárias, grandes avenidas, urbanizada com esquadro e muitas regras e isso agradou-me, assim como os textos comerciais de abertura sobre Shaker Heights (era uma cidade construída para carros e para pessoas que tinham carros) e o apelido Ng da autora (lê-se “ing”).
Deixei a Maisie em lugar visível para me provocar e avancei para os pequenos fogos. Logo desde o início, pareceu-me tudo muito previsível e regrado, isto é, apesar de Mia ou até por causa de Mia (a personagem que traz os desastres) o romance sofre um bocado do mal que pretende examinar. Agora estou a meio e percebo que o problema maior é que o livro, mesmo antes de ser adaptado à televisão, já utiliza a linguagem das séries de luxo: é demasiado certinho e liso, não deixa nada por dizer, não tem zonas de sombra autêntica, só serve para recolha de informação linear. Faz lembrar o pão rústico da Bimbo. É pena, porque estabelecia uma boa ligação ao texto anterior sobre os vícios dos ricos.
“Durante as suas limpezas, Mia começou a observar cuidadosamente. Sabia que Trip tivera negativa num teste de Matemática através dos pedaços de papel rasgado no seu caixote do lixo, ou quando é que Moody tinha estado a escrever canções através das folhas de papel amachucadas no dele. Sabia que ninguém na família Richardson comia a crosta da piza ou bananas manchadas, que Lexie tinha predileção por revistas de sociedade e — de acordo com a sua estante — por Charles Dickens, que o Sr. Richardson gostava de comer sacos inteiros de rebuçados de caramelo recheados enquanto trabalhava, à noite, no seu escritório. Quando terminava uma hora e meia depois, a casa estava arrumada e ela tinha uma ideia relativamente clara daquilo que cada membro da família andava a fazer.” (páginas 76 e 77)
“Porque Shaker Heights era efectivamente bela. Por todo o lado nasciam relvados e jardins — os moradores prometiam manter as ervas daninhas arrancadas e cultivar apenas flores, nada de legumes.” (página 150)
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