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— E aquela história do Fernando Namora, O Caso do Sonâmbulo Chupista

Eu apenas fiz a divulgação da vigarice do Namora… Eu estou em Agosto na cervejaria Trindade com o Serafim Ferreira e com o Herberto Helder, que se está a queixar que aquela gaja, a Maria Estela Guedes, tinha feito um livro com textos que tinha roubado, e de repente o Serafim diz: “opá, isso plágios é o que para aí há mais, eu tenho lá em casa a edição especial da Aparição que me deu o Vergílio Ferreira com coisas anotadas que o Namora lhe roubou...” E eu estou a ouvir aquilo e estou calado. No dia seguinte telefono para a Amadora, onde mora o Serafim, e pergunto: “ouve lá, aquela tua conversa de ontem, aquilo era blague de café ou era a sério?” “Não, tenho cá o exemplar da Aparição. Combinámos então o terrível crime nas escadinhas do duque, em que ao cimo das escadinhas eu digo: “ouve lá, tu vais fazer um panfleto e eu edito-te e vamos ganhar um bocado de massa os dois, estamos em Agosto, agora não se vende nada mas vende-se em Setembro”. E ele disse: “eu não posso fazer” – não perguntei porquê, devia favores ao Vergílio Ferreira ou ao Namora, porque o Serafim é um bocado marçano. E eu disse: “então passa-me para cá isso e faço eu”. Estive semanas ou talvez mais, um mês ou dois, a confrontar na Biblioteca Nacional, foi tudo verificado... eu mostrava às pessoas e as pessoas concordavam, aquilo era tudo roubado, o Namora, no Domingo à  Tarde tinha copiado partes do Aparição, do Vergílio Ferreira. Fui então ao O Jornal ter com o Rodrigues da Silva: “ouve lá, achas que isto aqui é publicável? Reposta dele: “opá, o José Carlos Vasconcelos é muito amigo do Namora, nem pensar...” Ninguém queria publicar aquilo. Estavam com medo do Namora. Tive eu de publicar, melhor, tive de arranjar um gajo, o Vítor Belém, ele é que fez a edição. O Belém foi comigo à Tipografia Mirandela, na Travessa Condessa do Rio, perto da Calçada do Combro... era a gráfica desses gajos da extrema-esquerda… aquilo foi composto, eu revi provas, num papel muito ordinário... saiu num folheto de 8 páginas, fiz 5 ou 6 mil exemplares. Despachei tudo, vendeu-se à maluca, alguns iam parar as caixas do correio.

Luiz Pacheco, entrevistado por João Pedro George no blogue Esplanar, em maio de 2005. Para ler, na íntegra, aqui.

Comentários

E existe o caso de Golgona Anghel, que foi "beber" a um poema de um poeta argentino. Mas isso a malta preferiu esquecer, pois é quem é.
c disse…
Li qualquer coisa sobre isso no blogue do Henrique, mas confesso que não aprofundei. Conheço o nome, mas não o trabalho de Golgona Anghel.

Varre-se para debaixo do tapete porque não interessa a ninguém.
Não será fácil ao Nuno Moura explicar que fez uma performance poética (seja lá isso o que for)
https://www.fundacaodomluis.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=588&catid=92

Sobre um texto que foi sacado do último post da modo de usar & co.
http://revistamododeusar.blogspot.com/2017/11/poetas-nascidos-e-estreados-na-saudosa.html

(Menos ainda se Marcos Siscar estiver na assistência.)

Eles terminam o blogue da modo de usar dizendo “que venha o futuro”. Pois, o futuro veio e transformou a poesia num jogo de legos em segunda mão. Montamos as peças, esfregamos a barriga de contentes e, com sorte, arrotamos. E temos de ser uns para os outros.

Nem é um mal do nosso tempo (apenas é mais fácil de praticar agora porque há muita informação disponível), foi por isso que publiquei esta resposta do Luiz Pacheco. Não conheço os pormenores das acusações, mas diz ele que o Herberto Helder queixa-se que a Maria Estela Guedes publicou “um livro com textos que tinha roubado”. Ora bem, quando procurei a senhora no google, descobri que tem currículo grandioso, carreira bem estruturada e, pasme-se, escreveu vários textos e livros sobre Herberto Helder.

https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Maria_Estela_Guedes

Outra coisa que entretanto me ocorreu é que sentir indignação perante estes casos diz automaticamente que não pertencemos ao meio, logo o meio não nos liga pevide. Resta-nos o manguito para aliviar e seguir em frente.
Sim, não deve ser fácil ao Nuno explicar tudo isso.

Mas a mim incomoda-me o silêncio. O varrer para baixo do tapete (nunca o fiz em casa e não será agora que irei começar a fazer). Cada vez tenho mais a certeza de que há demasiada vaca sagrada neste país. O que vale é não estarmos na Índia e ainda podemos dizer que são magras.

A verdade é que muitos acham piada a Luiz Pacheco, mas depois ninguém se atreve a denunciar como ele denunciava. A malta só repara no lado anedota da vida de Luiz Pacheco. Mas depois é essa mesma malta que diz fazer falta "um Pacheco" ou "o Pacheco" (sempre achei piada ao uso de artigos definidos e indefinidos antes de nomes próprios). E também é verdade que Luiz Pacheco tinha o rabo preso na maior parte das vezes, mas isso não o impedia de dizer o que dizia.

Vergílio Ferreira, num dos volumes do diário, refere a malandrice de Luiz Pacheco. Todavia, nunca diz que é uma malandrice injusta ou falsa. Não. Nada diz. Apenas que Luiz Pacheco foi malandro. A verdade é que a relação entre Ferreira e Namora nunca mais foi a mesma. E eles eram bastante amigos.

O caso de Herberto e Maria Estela Guedes: não é novidade. É uma historieta que se contava e que, em alguns círculos, ainda se conta. Mas ela por aí anda, de cabeça erguida, como se nada fosse. E ainda é convidada para mesas redondas e todos dizem baixinho "aquela é a tal".

Al disse…
Ainda mais engraçada é a história de como a brigada pró-Namora defendeu e inventou e difundiu o contraditório ao plágio - inclusivé de uma edição anterior à do Vergílio Ferreira. Do que me recordo da leitura da biografia do L. Pacheco, tudo muito bem organizado pelo Baptista-Bastos.