Fernando Pessoa transformou-se num monstro tocado pelo gigantismo. Há dezenas, centenas, milhares, de académicos a estudá-lo, de trás para a frente e de frente para trás, de baixo para cima e de cima para baixo, com lentes atómicas, pinças, bisturis, raios x. Cada papel, cada linha, cada palavra, cada risco. Pergunto-me se a «academia» não terá raptado Pessoa e mergulhado o monstro em formol. Existirão simples leitores de Pessoa? Existirão leitores capazes de se emocionar com os textos sem pensar nas costuras? Por vezes, a obra de Pessoa faz lembrar uma daquelas manifestações em que há mais polícias do que manifestantes.
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral
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