No seu currículo decalcado, CB refere a edição de um livro anterior — de autor, diz ela. Chama-se "Pequenos Naufrágios", pode ser visto na íntegra aqui e, assinale-se a lata, tem direitos de autor reservados ©.
Seria muito fastidioso apontar a origem de todos os textos (há versos de Teixeira de Pascoaes, Primo Levi, Ruy Cinatti, Carl Sandburg, Cesariny, Vasco Graça Moura, Leonard Cohen, José Afonso, inúmeros poemas traduzidos por Luís Filipe Parrado no blogue Do trapézio, sem rede, outros publicados por Rui Almeida no Poesia distribuída na rua) por isso apresento apenas cinco exemplos já com os links para a origem, linha a linha. Escolhi estes mas poderia ser qualquer um dos 14 textos, todos seguem este método:
1.
As falsas promessas, os amigos fingidos
e o gerente oferece-lhe um jogo de frigideiras
pelo seu aniversário
Era um desses dias em que tudo corre bem
Não serás a última,
velha rameira da noite
No entanto
também a morte poderia também ser assim
(ao tentar esconder a origem do último verso, CB acrescentou um "também" que estraga a frase, aliás, não o posso negar, ela é muito boa a estragar tudo aquilo em que toca.)
2.
sem voltar à praia e sem voltar ao mar
amo todas as palavras
do fundo do silêncio
nesta certeza-quase-incerteza
quando a tarde se apressa
como esta pedra
a morte
descompensa
vivendo
(ora bem, T. S. Eliot e Ungaretti juntos com a palavra “descompensa” — isto até parece galhofa.)
3.
Com a minha dor... o amor antigo
a minha antiga noite é hoje a minha aurora
a princípio não se sente
um coração ressequido
Não queiras enviar-me
mais nenhum mensageiro
faz como o atirador:
dorme sobre a espingarda
Sem asas
sou um sonho sem uma vida
pessoa totalmente dispensável
4.
ser honesto nos versos
roço-me por eles, acaricio-os, vou
comê-los
um a um
desprendido até à medula
o meu amor é um escândalo
e o que ficou
de sonhos surrealizantes
versos náufragos
em vez de terra firme
5.
Debaixo dos meus pés
Cai o crepúsculo azul
Dizei-me, ó apaixonados,
Não se pode viver sem amar?
Não prometo nada
Desta vez tenho um plano
Não há palavra mais doce
que aquela que se despe
dias antes de morrer
Seria muito fastidioso apontar a origem de todos os textos (há versos de Teixeira de Pascoaes, Primo Levi, Ruy Cinatti, Carl Sandburg, Cesariny, Vasco Graça Moura, Leonard Cohen, José Afonso, inúmeros poemas traduzidos por Luís Filipe Parrado no blogue Do trapézio, sem rede, outros publicados por Rui Almeida no Poesia distribuída na rua) por isso apresento apenas cinco exemplos já com os links para a origem, linha a linha. Escolhi estes mas poderia ser qualquer um dos 14 textos, todos seguem este método:
1.
As falsas promessas, os amigos fingidos
e o gerente oferece-lhe um jogo de frigideiras
pelo seu aniversário
Era um desses dias em que tudo corre bem
Não serás a última,
velha rameira da noite
No entanto
também a morte poderia também ser assim
(ao tentar esconder a origem do último verso, CB acrescentou um "também" que estraga a frase, aliás, não o posso negar, ela é muito boa a estragar tudo aquilo em que toca.)
2.
sem voltar à praia e sem voltar ao mar
amo todas as palavras
do fundo do silêncio
nesta certeza-quase-incerteza
quando a tarde se apressa
como esta pedra
a morte
descompensa
vivendo
(ora bem, T. S. Eliot e Ungaretti juntos com a palavra “descompensa” — isto até parece galhofa.)
3.
Com a minha dor... o amor antigo
a minha antiga noite é hoje a minha aurora
a princípio não se sente
um coração ressequido
Não queiras enviar-me
mais nenhum mensageiro
faz como o atirador:
dorme sobre a espingarda
Sem asas
sou um sonho sem uma vida
pessoa totalmente dispensável
4.
ser honesto nos versos
roço-me por eles, acaricio-os, vou
comê-los
um a um
desprendido até à medula
o meu amor é um escândalo
e o que ficou
de sonhos surrealizantes
versos náufragos
em vez de terra firme
5.
Debaixo dos meus pés
Cai o crepúsculo azul
Dizei-me, ó apaixonados,
Não se pode viver sem amar?
Não prometo nada
Desta vez tenho um plano
Não há palavra mais doce
que aquela que se despe
dias antes de morrer
Comentários
A primeira pessoa com quem falei sobre este caso foi a própria Cristina Bartleby. Quando soube das edições, informei os editores (Susana Paiva em dezembro de 2015 e Douda Correria em outubro de 2018).
Bartleby é um apelido (literário) escolhido, na verdade chama-se Cristina Freitas Branco. Aparece aqui:
https://www.facebook.com/ant1madeira/photos/-páginas-de-culturao-primeiro-poeta-que-despi-a-frase-é-o-primeiro-verso-de-um-p/10156063675006775/
Escrevi à Susana Paiva (com conhecimento da CB) em dezembro de 2015 quando soube que o livro tinha sido editado. Ela demarcou-se do corta e cola da CB mas o livro já estava impresso e, além disso, o livro é composto por reproduções de fotografias e textos, digamos que uma parte do livro não tem culpa das práticas safadas da outra. A Susana ficou de falar com a CB sobre o assunto e depois diria alguma coisa. Não recebi mais informações sobre o caso, nem indaguei.
Soube da edição d' O Primeiro Poeta Que Despi através do blogue poesia incompleta (o post é do dia 20). Fui apanhada de surpresa, pensei que depois dos náufragios a CB se refugiaria no facebook, longe da minha vista. Creio que ainda andei uns dias a pensar se devia informar os editores ou ignorar. Acabei por comentar no blogue poesia incompleta e também no blogue da douda correria, mas esses comentários nunca foram publicados. Como sei que os comentários, se tiverem links, podem ir directamente para spam, escrevi directamente para o email da douda correria, mas esse mail também pode ter ido para spam. Nunca me responderam e pensei que: ou não receberam a mensagem, ou receberam e acharam que era um exagero, ou até mesmo podem encontrar nos textos da CB qualquer coisa de novo e potente— eu sei lá.
Entretanto voltei a escrever no blogue do Rui e achei que devia livrar-me disto que é pior que uma espinha. E, devo confessar, foi um alívio.
Será que foi tudo pensado e premeditado com a conivência de todos os envolvidos?
Não me parece.
No caso da Susana, como cheguei a falar com ela, fiquei certa disso: não lhe passava pela cabeça que os textos que CB assinava eram pescados à linha dos arquivos do blogues.
Se calhar aconteceu o mesmo com a Douda Correria.
O que me aborrece mais, e volto a repetir, é a cegueira de publicar à toa. Gostava que os editores, para além de mandarem imprimir os textos, os lessem, mas a sério. E já agora que se dessem ao trabalho de elaborar uma análise desses textos.
Não gosto de espalhafato e tentei sempre resolver o problema de forma discreta. Entretanto percebi que assim não se vai a lado nenhum, mas como já nem escrevia no blogue não tinha meios de acção. Avisei amigos e algumas pessoas ligadas à CB e fui percebendo que há muita gente que acha que isto é aceitável, é, talvez, digamos assim, uma “forma de estar”? Agora livrei-me do assunto, do efeito de sombra e, francamente, só me apetece esquecer a CB e a sua vontade de fazer poesia à força.
Continuo a achar que os editores não sabiam disto, que não se trata de uma experiência social e poética. A Susana Paiva, creio que ficou com vergonha e quis esquecer o caso. Sim, devia ter-se demarcado, eu teria feito isso. A Douda Correria, não sei o quê. Concordo que os editores devem ser mais responsabilizados pelo que editam. Gostava, por exemplo, que a Douda Correria defendesse a CB mostrando-me o que eu não consigo ver nos seus textos, o valor da escrita que levou à edição.
Desde o início, tentei deixar claro que o que a CB faz não tem nada a ver com montagem, citações ou colagem. Para isso é preciso assumir o gesto, ter dedos esguios e leves, escolher um caminho — pode ser humor, grotesco, delicadeza do diálogo, sei lá. Ana Hatherley pega nuns versos de Rilke, põe-se na conversa e aquilo é precioso: cheio de música, reflexões sobre as palavras e muita “graça”. Mas, claro, Hatherley é um mestre.
CB coloca-se precisamente onde não tem chão: rapina e vaidade (e não sei qual é a pior).
No entanto, depois de ouvir aquela entrevista (não a conhecia, fui procurar algo que provasse que a CB tem corpo e voz) fiquei um bocado desconsertada. Aquilo é muito cómico mas, passado um bocado, é muito triste. E dei por mim a aproximar a CB àquelas velhinhas católicas que fazem restauros em Espanha.
Sou cheia de dúvidas, não tenho jeito nenhum para julgamentos. Levantei a lebre, mas não vou prosseguir. Para mim, isto é o fim. Com definhamento ou não da carreira da CB. Prefiro regressar às lebres mortas que é onde me sinto bem.
Desculpem, vou pensar num castigo para me aplicar.