Geralmente deixo as notas, prefácios e esse género de informações adicionais para o fim, gosto de saber do que falam para concordar, divergir ou ignorar — e como é que posso saber isso antes de ler os contos, o romance ou o que seja? Bom, costuma ser assim mas na “Guerracivilândia em Mau Declínio” baldei-me para a regra.
É o meu terceiro livro de contos de Saunders, já deixei crescer um intenso afecto pelo autor, por isso fui direita às notas das últimas páginas sobre as circunstâncias em que o livro foi escrito (segmento: o escritor é o escritor e as suas circunstâncias). Como é habitual nos contos, também aqui: é tudo divertido e sórdido, Saunders revela uma extraordinária capacidade de desenrolar frases vulgares (um maná para os tradutores) sobre cenários complexos, as personagens passam a vida a tropeçar e a elevar-se, as situações complicadas tendem a complicar-se ainda mais antes de estourarem de modo suave.
“Subitamente, senti-me como se estivesse a levar um enxerto de porrada numa viela qualquer e me apercebesse de que só estava a usar um dos braços. Todas as minhas capacidades naturais, percebi, tinham sido postas, por mim próprio, atrás de uma rede de protecção. Estas capacidades eram: humor, velocidade, o escatológico, irreverência, concisão e permitir que estas capacidades viessem a jogo.
E escrever podia ser divertido outra vez.
Foi o dia em que comecei este livro, essencialmente.”
Por isso fiquei chateada com a velha vizinha de Chicago que lhe telefonou quando leu o livro. A Sra. L disse que estava preocupada, disse que ele parecia “uma pessoa muito infeliz. Como o tipo que vai despejar o lixo à noite, muito tarde, infeliz e a resmungar”.
Caramba, lá porque as situações descritas são um bocado (ou até muito) sinistras, isso significa que a vida dele é uma desgraça pegada? Esta ideia de colar obra e autor é tão pateta e tão comum que até magoa. Se um tipo consegue imaginar situações como as dos contos de Saunders em que a vontade de chorar transforma-se em vontade de rir num estalar de dedos e vice-versa, ora bem, esse tipo não é um infeliz, é um Tipo Cheio de Qualidades Dinâmicas.
É o meu terceiro livro de contos de Saunders, já deixei crescer um intenso afecto pelo autor, por isso fui direita às notas das últimas páginas sobre as circunstâncias em que o livro foi escrito (segmento: o escritor é o escritor e as suas circunstâncias). Como é habitual nos contos, também aqui: é tudo divertido e sórdido, Saunders revela uma extraordinária capacidade de desenrolar frases vulgares (um maná para os tradutores) sobre cenários complexos, as personagens passam a vida a tropeçar e a elevar-se, as situações complicadas tendem a complicar-se ainda mais antes de estourarem de modo suave.
“Subitamente, senti-me como se estivesse a levar um enxerto de porrada numa viela qualquer e me apercebesse de que só estava a usar um dos braços. Todas as minhas capacidades naturais, percebi, tinham sido postas, por mim próprio, atrás de uma rede de protecção. Estas capacidades eram: humor, velocidade, o escatológico, irreverência, concisão e permitir que estas capacidades viessem a jogo.
E escrever podia ser divertido outra vez.
Foi o dia em que comecei este livro, essencialmente.”
Por isso fiquei chateada com a velha vizinha de Chicago que lhe telefonou quando leu o livro. A Sra. L disse que estava preocupada, disse que ele parecia “uma pessoa muito infeliz. Como o tipo que vai despejar o lixo à noite, muito tarde, infeliz e a resmungar”.
Caramba, lá porque as situações descritas são um bocado (ou até muito) sinistras, isso significa que a vida dele é uma desgraça pegada? Esta ideia de colar obra e autor é tão pateta e tão comum que até magoa. Se um tipo consegue imaginar situações como as dos contos de Saunders em que a vontade de chorar transforma-se em vontade de rir num estalar de dedos e vice-versa, ora bem, esse tipo não é um infeliz, é um Tipo Cheio de Qualidades Dinâmicas.
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