Gosto de despojar os objectos de ostentações. É mais ou menos o contrário da publicidade ou da arte contemporânea mais empreendedora (ver Joana Vasconcelos nos dois casos): restituir vulgaridade às coisas, deitar por terra o prestígio acumulado (vale a pena investigar os antecedentes latinos da palavra prestígio). É por isso que, entre outros gestos, prefiro comprar flores imperfeitas na rua ou na drogaria da avenida de França e a revista Electra na tabacaria da Fonte da Moura. Ontem caprichei no desempenho do exercício. À tarde, quando fui para casa, meti a revista de papéis finos no saco junto com o guarda-chuva vermelho ainda húmido e o tupperware sujo de sopa. O pensamento, a crítica e a reflexão precisam tanto de discurso como de chão.
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral
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