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A greve continua

Esta greve dos motoristas é um dos acontecimentos políticos mais interessantes dos últimos tempos. Se avançarmos para além das questões básicas que excitam os jornalistas, deparamos com uma paisagem complexa* que merece atenção e análises em várias frentes. Mas o facto que me perturba mais talvez seja como, sobranceiros a todos os discursos**, os eternos valores da honra e vergonha traçam o nosso destino.


* O desconhecimento generalizado (envolve políticos, comentadores, historiadores, isto é, gente que vive numa situação económica paralela) dos ordenados pouco acima dos valores mínimos instituídos e das condições de trabalho degradadas da maioria dos trabalhadores; a iliteracia financeira que impede a leitura correcta de um recibo de vencimento e dos esquemas que esconde; a manha das pequenas e médias empresas que disfarçam uma gestão vaidosa e mal feita, sempre no fio da navalha, assente em salários baixos e sem perspectivas de crescimento, assumindo tantas vezes o velho papel de “capataz” das empresas dominadoras que existem para assegurar dividendos aos accionistas; a ronha dos trabalhadores e dos seus representantes que, em vez de proclamarem com segurança e clareza os seus direitos, aceitam subterfúgios e dizem meias verdades; e a lista continua.

** Os discursos devem ser lidos palavra a palavra, só assim podemos parar e perguntar porque é que os trabalhadores declaram que estão tristes quando deviam reivindicar justiça salarial sem pieguices 
(está na altura de voltar a ler Michael Kolhaas).

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