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Papel higiénico

Há três dias que uma onda de pânico varre, sem parar, os supermercados. No nosso bairro, não há vegetais, carne, enlatados e papel higiénico. De papel higiénico, não resta a sombra de uma embalagem. As prateleiras vazias conduzem-me de novo, e por caprichosos caminhos, a Artaud.

Onde cheira a merda
cheira ao ser.
O homem poderia muito bem não cagar,
não abrir a bolsa anal,
mas ele escolheu cagar
tal como escolheria viver
em vez de aceitar viver morto.

Pois para não fazer caca
precisaria de aceitar
não ser,
mas ele não quis optar por perder
o ser,
ou seja, morrer vivo.
(...)

Antonin Artaud, Para acabar de vez com o juízo de Deus e outros textos finais (1946-1948). Tradução de Pedro Eiras.

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