Parte teórica
Na maior parte dos casos, a responsabilidade social das empresas portuguesas é apenas uma treta: escrevem-se palavras cheias de sentimento, atiram-se umas moedas para o chão de modo a ganhar dividendos sociais — vaidade e hipocrisia. Se quissessem, de facto, retribuir alguma coisa à comunidade, então a responsabilidade social deveria ser uma prática e não um gabinete de comunicação. O seu campo de acção deveria começar no primeiro círculo das empresas: pagar salários justos aos trabalhadores, cumprir os prazos de pagamento aos fornecedores, não tentar enganar os clientes e por aí fora.
Exercício prático (salto ao eixo)
Comparar (por exemplo) este parágrafo:
É um braço de nós. Manifesta a natureza integradora da Música e a responsabilidade social como eixo da nossa acção. Ao Alcance de Todos é um vasto programa de inclusão social que soma projectos artísticos e comunitários, criando oportunidades de expressão e realização a cidadãos com fragilidades de ordem diversa.
com o artigo de Luís Miguel Queirós.
(...) Se a Casa da Música, que sempre optou por contratar directamente os assistentes de sala por acreditar que se trata de uma função relevante para a imagem pública da instituição, tivesse decidido simplesmente pagar a todos segundo a média mensal do respectivo histórico de remunerações, teria de desembolsar mensalmente, segundo calculámos com base nos dados a que tivemos acesso, pouco mais de dez mil euros. Com mais três mil euros manteria a remuneração dos guias. E se, em vez de propor adiantamentos, tivesse decidido garantir também na totalidade as remunerações de todos os técnicos e formadores, gastaria cerca de 54 mil euros mensais num conjunto de cerca de 150 trabalhadores.
Para o fazer, é provável que tivesse de proceder a algumas diligências, previsivelmente facilitadas em tempo de pandemia, para se assegurar de que não cometia uma ilegalidade ao pagar sem a contrapartida de serviços prestados, mas talvez venha a concluir-se, por outro lado, que o montante mensal que agora poupou poderão não compensar, mesmo de um ponto de vista estritamente financeiro, os danos de imagem que este conflito está a infligir à Casa da Música.
Nota de rodapé
Provavelmente os 54 mil euros mensais vão ser gastos numa campanha publicitária para tirar nódoas à imagem da instituição — é a chamada economia rotunda.
Na maior parte dos casos, a responsabilidade social das empresas portuguesas é apenas uma treta: escrevem-se palavras cheias de sentimento, atiram-se umas moedas para o chão de modo a ganhar dividendos sociais — vaidade e hipocrisia. Se quissessem, de facto, retribuir alguma coisa à comunidade, então a responsabilidade social deveria ser uma prática e não um gabinete de comunicação. O seu campo de acção deveria começar no primeiro círculo das empresas: pagar salários justos aos trabalhadores, cumprir os prazos de pagamento aos fornecedores, não tentar enganar os clientes e por aí fora.
Exercício prático (salto ao eixo)
Comparar (por exemplo) este parágrafo:
É um braço de nós. Manifesta a natureza integradora da Música e a responsabilidade social como eixo da nossa acção. Ao Alcance de Todos é um vasto programa de inclusão social que soma projectos artísticos e comunitários, criando oportunidades de expressão e realização a cidadãos com fragilidades de ordem diversa.
com o artigo de Luís Miguel Queirós.
(...) Se a Casa da Música, que sempre optou por contratar directamente os assistentes de sala por acreditar que se trata de uma função relevante para a imagem pública da instituição, tivesse decidido simplesmente pagar a todos segundo a média mensal do respectivo histórico de remunerações, teria de desembolsar mensalmente, segundo calculámos com base nos dados a que tivemos acesso, pouco mais de dez mil euros. Com mais três mil euros manteria a remuneração dos guias. E se, em vez de propor adiantamentos, tivesse decidido garantir também na totalidade as remunerações de todos os técnicos e formadores, gastaria cerca de 54 mil euros mensais num conjunto de cerca de 150 trabalhadores.
Para o fazer, é provável que tivesse de proceder a algumas diligências, previsivelmente facilitadas em tempo de pandemia, para se assegurar de que não cometia uma ilegalidade ao pagar sem a contrapartida de serviços prestados, mas talvez venha a concluir-se, por outro lado, que o montante mensal que agora poupou poderão não compensar, mesmo de um ponto de vista estritamente financeiro, os danos de imagem que este conflito está a infligir à Casa da Música.
Nota de rodapé
Provavelmente os 54 mil euros mensais vão ser gastos numa campanha publicitária para tirar nódoas à imagem da instituição — é a chamada economia rotunda.
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