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Estantes

Tenho duas estantes: uma com os livros que li e outra com os livros que estão por ler. Não misturo. São domínios completamente diferentes.

Quando não consigo terminar um livro, coisa que ainda me custa fazer, não o arrumo na estante dos livros já lidos, mas na outra, a estante dos livros por ler. Mesmo que tenha ficado a poucas páginas do fim.

A estante dos livros já lidos está organizada de acordo com um sistema simples: os autores acham-se agrupados por línguas e dentro das línguas por nacionalidades.

Entre os autores de língua alemã, por exemplo, estão os austríacos e os alemães. Os cubanos, os argentinos, os espanhóis ou os mexicanos, sucedem-se entre os de língua espanhola. Depois, os russos, os húngaros, os japoneses, e assim por diante.

Há várias excepções. Beckett, apesar de tudo, permanece entre os autores de língua inglesa e Kafka está fora da secção alemã. Os suiços estão juntos, apesar do grupo incluir autores de línguas diferentes. Enfim, há também os belgas e outros casos menos óbvios.

A estante dos livros por ler, que inclui, como disse, muitos livros que ficaram a meio, está a abarrotar. Aqui não tenho nenhum sistema de organização. Arrumos-os ao calhas.

Quando decido escolher um livro para ler, percorro esta estante como se entrasse num labirinto. O prazer da leitura começa exactamente nesse momento. O tempo que demoro até encontrar a saída. Às vezes a solução parece simples, outras vezes é apenas uma saída em falso.

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