- Vejamos então. Muitas vezes penso como seriam diferentes a nossa arte, os nossos escritos, as nossas técnicas, as nossas arquitecturas, tudo aquilo que realizámos se, em 1650, por exemplo, tudo o que até então fosse obra do homem tivesse sido destruído, tão meticulosamente destruído que nenhum ser humano pudesse lembrar-se de como era uma roda de carroça, nem se a Vénus de Milo fora uma pintura, um poema ou um nome inscrito na quilha de um navio, ou se a democracia e monarquia se referiam a alimentos ou eram sinos de igreja. Pela minha parte, estou convencido de que o mundo seria hoje, provavelmente, um lugar cem vezes mais agradável para viver se humanidade, de tempos a tempos, tivesse a oportunidade de desfazer-se de toda a história e de toda a tradição e voltasse a começar do zero, sem ideias gastas, lugares-comuns e opiniões que criam obstáculos ao nascimento de um mundo inteiramente novo.
B. Traven, O visitante da noite e outros contos. Tradução de Manuela Gomes.
B. Traven, O visitante da noite e outros contos. Tradução de Manuela Gomes.
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