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Banalidades

- Então não tem mesmo respeito nenhum pela sua arte?
- Pela minha arte? Porque deveria ter mais respeito pela minha arte do que pela de qualquer outro?
- Mas interpretou os grandes papéis; interpretou Shakespeare, interpretou Hamlet, não foi? Nunca se sentiu tocado na essência do seu ser ao proclamar o profundo monólogo «Ser ou não Ser?»
- O que quer dizer com profundo?
- Bem, profundo e penetrante!
- Explique-se. O que tem de tão profundo dizer coisas como «Devo ou não matar-me? Ficaria feliz por cometê-lo se soubesse o que existe depois da morte (como qualquer outra pessoa). Mas não sabemos, por isso não nos atrevemos a tirar as nossas próprias vidas.» O que tem isso de profundo?
- Bem, se o coloca desse modo...
- Exactamente. Não tenho dúvidas de que pensou em tirar a sua própria vida em alguma altura, não pensou?
- Sim, toda a gente o fez.
- E porque não o fez? Porque, como Hamlet, não se atreveu, porque não tem a certeza do que existe depois! Estava então a ser especialmente profundo?
- Claro que não.
- Assim sendo, não passam de banalidades. 

August Strindberg, O salão vermelho. Tradução de João Reis.

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