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Pontualidade

Esta manhã, quando li no jornal a nova lista de baixas, tropecei num nome que me é familiar, do noivo da minha irmã. Uma hora mais tarde, o carteiro entregou-me uma carta de sobrescrito redigido com a letra do morto e dirigida ao meu falecido irmão, mobilizado ao mesmo tempo que ele. Um morto a escrever a outro é bem melhor do que um morto escrever a um vivo, como no caso daquela mãe que foi recebendo cartas do filho durante um mês e já tinha lido no jornal o relato da sua horrível morte, esfacelado por uma granada. Carinhoso filho esse, que em todas as cartas esbanjava palavras de afecto e consolo, de jovem e inocente esperança na sua boa sorte. Depois de morto continuava com uma pontualidade satânica a falar da vida, ao ponto de a sua mãe duvidar de que tivesse morrido.

Leonid Andreiev, Riso vermelho. Tradução de Aníbal Fernandes.

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