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À terceira página

Como é aborrecido escrever!
Escrever versos, ainda vá! Podem ser escritos um a um. Dão-se uns com os outros, e no fim do mês só é preciso juntá-los. Além disso, a rima serve de gancho para puxar, mais!, mais ainda!, até o verso se render, soltar.
Mesmo que se trate de escrever uma pequena novela, ainda vá! É curta como uma visita de Ano Novo. Boa-tarde, boa-noite a pessoas que detestamos ou desprezamos. A novela é o aperto de mão banal que o homem de letras dá às criaturas do seu espírito. Fácil de esquecer como um conhecimento de transporte público.
Mas trata-se de um romance! Um romance completo, com personagens que não morrem depressa.
(...)
À terceira página preciso de respirar, tomar ar, fazer um período de preguiça; e quando regresso às minhas criaturas sinto medo como se tivesse de reatar relações com uma amante que se fez avó durante a minha ausência, como se tivesse de arrastar mortos numa estrada a subir.

Jules Renard, O pendura. Tradução de Aníbal Fernandes.

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