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O tipo de homem não só inútil e depravado, mas ao mesmo tempo inapto.

Apesar do título e do narrador explicar, ainda antes de começar a acção, que o herói do livro é Aleksei Fiódorovitch Karamázov, as descrições e as entradas em cenas de Fiódor Pávlovitch (pai dos três irmãos Karamázov) são prodigiosas de bufonaria.

Só para dar três exemplos.

Logo na primeira página do primeiro capítulo, um retrato e conceito muito bem definidos (nada a mais, nada em falta, excelente ritmo):
Agora digo apenas que este “proprietário rural” (como lhe chamavam aqui, embora não tenha vivido na sua propriedade durante quase toda a vida) era um tipo estranho, desses que no entanto se encontram com bastante frequência, ou seja, o tipo de homem não só inútil e depravado, mas ao mesmo tempo inapto — desses inaptos que, aliás, sabem tratar muitíssimo bem dos seus interesses mas, pelos vistos, só disso. (Página 17)

Mais à frente, esta conversa de Fiódor Pávlovitch com o filho Aleksei é de uma perfeição extrema e perturbadora; por preguiça transcrevo apenas um pedaço:
(...) Mas estás a ver: por mais estúpido que seja, eu penso e volto a pensar nisso, de vez em quando, claro, não pode ser sempre. É que é impossível, penso eu, que os demónios, quando eu morrer, se esqueçam de me arrastar a croques lá para o coiso deles. Então penso: croques? Onde é que eles os arranjam? De que são feitos? De ferro? Então, onde é que eles temperam o ferro? Terão lá alguma forja? É que os frades no mosteiro, pelos vistos, acham que o inferno, por exemplo, tem um tecto. Quanto a mim, estou pronto a acreditar no inferno, mas sem tecto; sem tecto terá um aspecto mais delicado, mais iluminado, à maneira luterana, digamos. Aliás, no fundo, que diferença faz — com tecto ou sem tecto? É que a maldita questão consiste precisamente nisso! Se, digamos, não houver tecto, também não haverá croques. E se não houver croques, nada feito, tudo se torna impossível: quem me arrastará com os croques e, se não me arrastarem, o que acontecerá, onde estará a verdade neste mundo? Il faudrait les inventer, inventar esse croques, especialmente para mim, só para mim, porque tu Aliocha, nem imaginas que desavergonhado eu sou!... (Páginas 37 e 38)

E para terminar em cheio, na visita ao stárets apanhamos Fiódor a dizer:
Eu, pessoalmente, (...).


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