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Vou viver no museu tal como costumo viver em casa

Eu sou artista. Sou mulher. Sou esposa. Sou mãe (ordem aleatória). Passo demasiado tempo a lavar, limpar, cozinhar, renovar, apoiar, preservar, etc. Além disso (e até agora estes dois mundos estavam separados), "faço" Arte.

Agora vou só fazer estas actividades quotidianas de manutenção, tornando-as conscientes, expondo-as como Arte. Eu vou viver no museu tal como costumo viver em casa, com o meu marido e o meu bebé (exacto, mas se não me quiserem no museu à noite, regresso todos os dias) durante o tempo todo da exposição e farei tudo isto como actividades de arte pública: vou varrer e encerar o chão,  limpar o pó a tudo, lavar as paredes (ou seja, "pinturas de chão, trabalhos com pó, esculturas de sabão e pinturas de parede"), cozinhar, convidar pessoas para comer, limpar, arrumar, mudar as lâmpadas. É possível que faça aglomerações e disposições com todo o material excedente funcional. A área da exposição poderá parecer "vazia" de arte, mas será mantida para que o público a possa ver.

O meu trabalho será o meu trabalho.


Mierle Laderman Ukeles, Manifesto Arte de Manutenção, 1969. Tradução de Patrícia da Silva e José Maria Vieira Mendes. Jornal Coreia #3.




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