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Era apenas um recado

Traduzir deixa em nós restos doutra maneira de falar. Parece que alguém desconhecido decide as palavras e até o ritmo da frase, pelo menos durante um certo tempo.
Sem querer, dou por mim a disparar palavras negativas de rajada: não, nunca, ninguém, nada, nem — todas na mesma linha, quase encostadas. Ultrapasso a dupla negativa e era apenas um recado.

Comentários

Raul Padilha disse…
Desconheço as aventuras e agruras do ato de traduzir, mas como mero leitor confesso sentir esta mesma impressão de "resquício" de língua alheia contaminando (para o bem e para o mal) minha prosa, seja num discurso puramente mental ou externalizado por meio da escrita. Quando acabo de ler um autor dificilmente fico salvo de emulá-lo, pelo menos temporariamente. Por esta razão é que Schopenhauer recomendava ler duas vezes o mesmo livro de maneira sequenciada, uma recomendação difícil, mas compreensível: na primeira leitura -- ele afirmava -- apenas seguimos a linha de pensamento conveniente ao autor, enquanto na segunda torna-se possivel pensar de forma mais independente e, portanto, crítica.