Estou a tentar traduzir um autor chileno que foi acusado várias vezes de roubo. Não de roubo literário, mas de bens materiais: automóveis, câmaras fotográficas, livros. Diz-se que uma das vítimas foi Nicanor Parra. O autor levou da biblioteca de Parra um livro raro e valioso sem intenção de o devolver. Outro roubo famoso foi o de uma carrinha da polícia, que o autor desfez contra um muro.
Na literatura, foi muito mais discreto: trabalhou obsessivamente nos seus textos, publicou muito pouco, não deu entrevistas e mergulhou numa espécie de anonimato voluntário. A biografia atribulada do autor transformou-se no seu «livro» mais popular. Talvez a intenção fosse justamente essa: desviar a atenção do que é essencial, quer dizer, dos transportes misteriosos da literatura. Um pouco como Walser que exigia a Carl Seelig um silêncio absoluto sobre os seus livros. Como se os textos nunca tivessem existido ou tivessem sido roubados e traficados num mercado negro fora deste mundo.
Na literatura, foi muito mais discreto: trabalhou obsessivamente nos seus textos, publicou muito pouco, não deu entrevistas e mergulhou numa espécie de anonimato voluntário. A biografia atribulada do autor transformou-se no seu «livro» mais popular. Talvez a intenção fosse justamente essa: desviar a atenção do que é essencial, quer dizer, dos transportes misteriosos da literatura. Um pouco como Walser que exigia a Carl Seelig um silêncio absoluto sobre os seus livros. Como se os textos nunca tivessem existido ou tivessem sido roubados e traficados num mercado negro fora deste mundo.
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