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Um modesto

Noutro dia no autocarro encontrei um jovem escritor de vanguarda (!), que me critica por não ser revolucionário, por não querer inventar nada, em suma, por não trazer nada de novo. — "Mas eu não quero mudar nada de nada", disse-lhe. Não entendeu nada das minhas palavras. Tomou-me por um modesto.

Emil Cioran, Cadernos 1957-1972. 

Nota: Em 63 palavras, Cioran utiliza cinco vezes "rien" o que dá uma taxa de quase 9% (confirma-se: nada modesto nas orações negativas). Reduzi o texto em português para 51 palavras, mantive cinco vezes "nada" e aproximei-me dos 10%. Não sei em que teoria da tradução isto se pode enquadrar, mas gosto de ajudar Cioran a provar o seu ponto. 

Comentários

alexandra g. disse…
Tu és, sempre te vi assim, uma pessoa mui rara.
E eu tenho saudades tuas como se tivessemos brincado na mesma rua, sempre sem bulhas, quase sempre caladas, as mãos buscando bichos de conta que levávamos nos bolsos, cuidadosamente, para casa. A unhas ainda com terra, que não queríamos lavar.

(cont.)
c disse…
E pedras. Ainda hoje apanho e trago pedras pequenas para casa. :)
alexandra g. disse…
Lembro-me de termos falado das pedras :)
c disse…
Só apanho pedras (e também restos de lava ou pedaços de vidro polido) pequenas; as maiores são do tamanho da palma da mão.


Tenho inveja do Cabrita Reis que trouxe uma pedra grande de Foz Côa, foram precisas oito pessoas para a meter dentro do carro (https://sol.sapo.pt/artigo/580868/pedro-cabrita-reis-sou-muito-mais-poderoso-do-que-qualquer-droga)