Em Design e Crime, Foster começa por um tema que nos remete para o universo acutilante e impiedoso de Karl Kraus (aliás, um dos protagonistas de Design e Crime). Pensemos, pois, neste problema à maneira de Kraus: qual é a causa do amolecimento cerebral contemporâneo, e a quem serve? Foster, peremptório: é a transformação da ética de vida (Nietzsche, Foucault) num mero décor; é o design global: aí cada indivíduo é, ao mesmo tempo, “designer” e “designed”. A manipulação pelo design é total: da casa (design de decoração) ao rosto (cirurgia plástica), da personalidade (drugs design) ao DNA (children design), de um candidato presidencial ganhador à Young British Art (nos livros-objectos de Bruce Mau, por exemplo), passando pela memória histórica (museum design), à arquitectura-espectáculo de Frank Gehry (“este designer de museus metálicos e salas de concerto curvilíneas,”) e à teoria-espectáculo de Rem Koolhaas (ver caps. III e IV) que não resistiria à realidade (o 11 de Setembro). Neste sentido nem é preciso ser-se muito rico para se aceder ao mundo do design global e à transformação da cultura comercial numa nova fonte de “status”: tudo é acessível já na província, desde a marca Sacks à revista The New Yorker, e ninguém precisa de viajar a Manhattan para conhecer os seus “arquivos” (comentando aqui Foster as ideias de um crítico desse magazine, John Seabrook no livro The Culture of Marketing, The Marketing of Culture), pois os arquivos entrópicos electrónicos já estão em todo o lado.
Carlos Vidal, a propósito de Design e Crime (E Outras Diatribes), de Hal Foster.
Texto completo na revista Punkto.
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