Pierre Assouline: Foi a leitura do Cioran que o acalmou?
Jean-Luc Godard: "Heureusement qu'on a les livres et les films"
Jean-Luc Godard: Ela corresponde à minha queda para o aforismo, a síntese, os provérbios. Este gosto talvez me venha das fórmulas científicas. O aforismo resume qualquer coisa mas permite outros desenvolvimentos. Como um nó: pode ser feito em vários sentidos, não impede que quando é feito, o sapato fique preso. Não é um pensamento, mas um traço do pensamento. E Cioran, leio-o sempre em todos os sentidos. É muito bem escrito. Com ele, o espírito transforma a matéria. Cioran dá-me uma matéria que alimenta o espírito.
PA: Mas o que o atrai tanto nos aforismos?
JLG: O seu lado de átrio de estação central. Entramos, saímos, voltamos. Se encontrarmos um bom pensamento, podemos permanecer nele muito tempo. Depois levamo-lo connosco. Não é preciso ler tudo. Pessoa, de quem também gosto muito, é demasiado negro enquanto Cioran ajuda a viver. É uma forma de pensamento diferente do pensamento com começo, meio e fim. Não conta uma história, é um momento da história.
PA: Podemos ver o que sublinhou nas Obras Completas de Cioran?
JLG: Coisas assim: Todo pensamento deve lembrar a ruína de um sorriso; Somos uns farsantes, sobrevivemos aos nossos problemas; Todo problema profana um mistério; por sua vez, o mistério é profanado pela sua solução; A palidez mostra-nos até que ponto o corpo pode compreender a alma; Cedo ou tarde, cada desejo deverá encontrar a sua lassitude, a sua verdade...
E depois há também este de que gosto muito: Objeção contra a ciência; este mundo não merece ser conhecido. É algo diferente dos disparates de Georges Charpak. Cientistas que se permitem escrever sem saber escrever, isso não! “A Lógica da Vida” de François Jacob foi escrito. Estou com Buffon: o estilo é o próprio homem. Levinas tinha belas ideias, mas era incapaz de as passar por causa do problema da linguagem. Popper e Einstein a mesma coisa. Existe uma perda do saber escrever. Enquanto Cioran ... Estava a esquecer-me deste: Perdi toda a frescura das minhas neuroses no contacto com os homens.
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