À semelhança de Bartleby, também as personagens de Walser preferem não fazer, querem ser um zero à esquerda, um zero muito redondo e encantador. E não só as personagens; no manicómio, Walser decide não escrever (pelo menos de forma oficial, apenas gatafunhos na clandestinidade). Todos querem pôr um pauzinho na engrenagem, mas o método de Walser é mais amável, gentil, doce, solar (esses adjectivos que descrevem gulosamente a sua escrita). Talvez porque é um homem e não uma personagem, Walser sabe melhor do que Bartleby não passar da cepa torta.
Alguns exemplos: em vez de comer como um pisco, Walser e a sua comitiva regalam-se com pratos bem servidos e uma caneca de cerveja (ver as caminhadas com Carl Seelig); em vez de ficarem parados, preferem passear ou, como explicou Agamben, “passear diz-se, no espanhol que falam os Sefardins pasearse — passear-se, portanto entender o passeio como um levar-se a passear, um deixar-se andar”; e em vez de se calarem, gostam de tagarelar sobre isto e aquilo como se fossem pássaros. Arrisco acrescentar que também gostam de gelados.
Podemos, talvez, tomar estes preceitos literários para levar melhor a nossa vida sem ir a lado nenhum?
— Ora bem, é para isso que cá estamos.
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