Afinal, o governo não estava cansado nem desgastado. Afinal, o governo estava cheio de tesão e com vontade de ir a eleições. Nos ressequidos estúdios televisivos, os comentadores explodem de euforia. Da miséria de factos passamos para o luxo de acontecimentos. Há petróleo a correr novamente nas redacções dos jornais. Os comentadores babam-se agora com a decadência da oposição, com a queda e putrefacção de uma certa direita, com a ascensão rápida de outra. Repete-se mil vezes que a democracia está em crise. O fim sem remédio do regime parece pertencer à ordem das evidências. E tudo, esquerda, direita, democracia, eleições, estado, povo, trabalho, direito, liberdade, a nossa vida, tudo, tudo é reduzido à dimensão de bibelôs de plástico com que os comentadores decoram a indigência do seu pensamento.
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral
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~CC~