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Como uma ventania

Akhmatova, como Gogol, não gostava de possuir nada. Tudo o que lhe davam, presentes, etc., ela distribuia a torto e a direito. Um xaile que lhe tinha sido oferecido podia ser encontrado na casa de outra pessoa, apenas alguns dias depois. Gosto muito deste traço, que lembra os costumes dos nómadas, que não podiam nem queriam guardar nada, e com razão. Tudo neles é provisório por necessidade e filosofia. J. de Maistre fala de já não sei que príncipe russo que dormia em qualquer lado no seu palácio; não tinha, por assim dizer, cama fixa, pois sentia que estava de passagem. Todas essas pessoas tinham a sensação de ter entrado na vida como uma ventania.


Emil Cioran, Cadernos 1957-1972

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