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O Diabo, provavelmente.

Laurence Tâcu: Acredita na existência do diabo? 

Emil Cioran: O diabo é o símbolo de qualquer coisa. O diabo não é uma invenção habitual. Existe sem existir. Acredito que o diabo é o mestre do mundo. É tão real como Deus. O mesmo tipo de realidade. O diabo é ao mesmo tempo ficção e realidade. Acredito que a história universal, a história do homem, é inimaginável sem o pensamento diabólico, sem um desígnio demoníaco. Na história, ele aparece o tempo todo. O diabo é o símbolo de qualquer coisa. Mas uma vez que o mal é o motor da história, o diabo tem, necessariamente, uma existência implícita. O que se chama, o que os crentes chamam de diabo é muito real, não na sua forma ingénua, evidentemente… mas o diabo é o grande agente do devir da história, e a história universal sem a ideia do diabo é inconcebível. Para mim, é uma convicção profunda. É o mal que é o motor da história. Pode-se conceber isso sem ter necessidade de uma fé negativa. É um princípio, o mal, filosoficamente falando, mas realmente, corresponde a uma realidade imanente. O homem é uma aparição diabólica, mas há vários graus. (Risos.)

Laurence Tâcu: Para ser diabólico? 

Emil Cioran: Sim. Nem tudo é completamente diabólico, é por isso que há graus. Menos diabólico, bastante diabólico, etc. Mas a ideia do diabo é uma ideia profunda e veja bem que a história começou com a ideia do diabo. É mais eficaz do que Deus. Se pegar na história universal, podemos explicá-la a partir do diabo, é muito difícil explicá-la a partir de Deus. Além disso, na Bíblia, Deus fez o mundo e mais nada. Mas o que é concreto é o diabo, a queda do paraíso, a catástrofe no paraíso. Digamos que, antes da história, o homem vivia numa espécie de paraíso e isso quebrou-se; a partir de então, quer dizer a partir da história, é o diabo que está presente. Podemos, portanto, dizer que a história é de essência demoníaca, qualquer que seja a ideia que se tenha de Deus. A essência demoníaca da história é a minha profunda convicção e quando pensamos na história universal, isso percebe-se, vemos muito bem que é assim mesmo. O diabo é o grande agente da história. Não é preciso fazer representações ingénuas do diabo, basta agarrar a ideia e compreende-se logo a história universal. (Risos.)

Laurence Tâcu: Ele é o grande clarificador? 

Emil Cioran: Sim, o agente é o tipo que está presente nos eventos desde sempre… Assim que o homem se agita, lá está o diabo. Podemos falar do silêncio do diabo quando não se passa nada, mas assim que algo começa a fervilhar, dá para o torto. Se excluirmos a ideia de uma presença demoníaca nos crimes humanos, não se compreende nada.


Cioran entrevistado por Laurence Tâcu, Les Cahiers de l'Herne — Emil Cioran.

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