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Atalhos à la Emily Dickinson

Emily Dickinson: I felt a funeral in my brain (Senti um funeral no meu cérebro), podia acrescentar como Madame de Lespinasse “em todos os momentos da minha vida”. Funerais perpétuos do espírito. 

Há meses que vivo todos os momentos de angústia na companhia de Emily Dickinson. 

Trocava todos os poetas por Emily Dickinson. 

Desde o meu antigo entusiasmo (agora já ultrapassado) por Rilke, nunca me apeguei tanto a um poeta como a Emily Dickinson. O seu mundo, que me é familiar, sê-lo-ia ainda mais se tivesse a audácia e a energia de me consagrar completamente à solidão. Mas falhei demasiadas vezes, por covardia, frivolidade ou talvez medo. Esquivei-me a mais de um abismo, por cálculo e instinto de preservação. Pois falta-me coragem para ser poeta. É por ter pensado demasiado nos meus gritos? Os raciocínios fizeram-me perder o melhor de mim mesmo. 

Deus, “o nosso velho vizinho”, como lhe chama Emily Dickinson. 

Yeats — depois de Emily Dickinson, podia acreditar que viria a amar um outro poeta? 
Ninguém me lembra Shelley como ele. E pensava eu que o entusiasmo pela poesia me tinha passado irremediavelmente! 

Só conheço duas definições de poesia: a dos antigos mexicanos: “O vento que vem dos deuses”... e a de Emily Dickinson (onde ela diz que reconhece a verdadeira poesia quando é tomada por um frio tão glacial que nada poderá jamais aquecê-la). (Encontrar a passagem.) 

Who has not found the heaven below / Will fail of it above 
(Quem não encontrou o céu em baixo / Falhá-lo-á em cima)
(E. Dickinson) 
O céu é a recompensa daqueles que já o encontraram cá em baixo.

Sonho com um sistema filosófico formulado com atalhos à la Emily Dickinson.

Reli alguns poemas de Emily Dickinson. Comovido até às lágrimas. Tudo o que emana dela tem a propriedade de me perturbar. 

Nature is a haunted house — but Art a house that tries to be haunted
(A natureza é uma casa assombrada, mas a arte — uma casa que tenta ser assombrada.)
(Emily Dickinson) 

O pequeno poema de Emily Dickinson que começa por: 
The Soul selects her own Society / Then shuts the Door
(A Alma escolhe a sua própria Companhia / Depois fecha a porta...) 
Ao lê-lo hoje à noite, pensei em Frechtman que uma noite o recitou aqui mesmo, com um sotaque penetrante. 
Esse pobre Frechtman enforcou-se há alguns anos.

Emil Cioran, Cadernos 1957-1972

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