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Leio no jornal que as autoridades russas apresentaram um novo míssil nuclear intercontinental: o RS-28 Sarmat. Este novo produto da tecnologia russa, construído exclusivamente com «componentes e peças de fabrico nacional», é uma arma com «elevadas características tácticas e técnicas», «verdadeiramente única», «de quinta geração», «invencível», «hipersónica», capaz de voar «a uma velocidade de cerca de 25.560 quilómetros por hora», «sem limites em termos de alcance», com capacidade para «atingir alvos atravessando tanto o Pólo Norte como o Pólo Sul» e «destruir uma área semelhante a França».
A notícia, como é óbvio, não impressiona pelas «características tácticas e técnicas» do novo míssil — num conflito nuclear, é irrelevante se a bomba é «hipersónica» ou apresenta sinais de ferrugem. A notícia impressiona pela linguagem. São as mesmas palavras e o mesmo tom da publicidade. Os mesmos truques dos tipos que apresentam «produtos inovadores» nas grandes feiras internacionais, na Web Summit ou num qualquer TEDx. Na gíria publicitária, este tipo de linguagem define-se pelo termo «aspiracional». Isto é, um género de comunicação cuja finalidade é provocar desejo no consumidor. No fundo, o «aspiracional» é o único objectivo da publicidade: criar a ideia de que adquirindo um certo produto, o consumidor vai ser mais feliz, respeitado e admirado.
O governo russo apresentou a bomba como se apresenta o último modelo de uma marca automóvel ou um frigorífico. E claro que não está sozinho. Os outros governos e fabricantes usam as mesmas técnicas para promoverem as respectivas bombas. Não é uma guerra de palavras. É mais perverso do que isso: é uma guerra publicitária. Quem consegue atrair mais «consumidores»? O que é mais desejável: a vida ou a morte, a paz ou a guerra? Depende do valor de mercado.

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